A falsa bondade
Existe uma falsa bondade que carrega uma áurea de amor, piedade e santidade que contradiz o Espírito da cruz. Em nossos dias não é raro encontrarmos nos meios "gospel" uma pregação de "amor" que passa por cima da JUSTIÇA e da GRAÇA que anuncia o evangelho. Mas seria isso bondade perante Deus?
Esse espírito enganador não é atual. Pedro apareceu a Jesus com uma aparência bonita de piedade querendo livrá-Lo da cruz, mas todo amor que prega o desvio da cruz tem como origem o próprio diabo! O amor não prega a compaixão própria, justiça própria, ou o detrimento da Verdade (da lei, da Palavra, da graça e da Justiça de Deus).
"Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens. Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16:21-25)
Quem vê o posicionamento de Pedro, que prega piedade pela vida de Jesus, pode considerá-lo lindo e justo. Afinal, Pedro não estava tentando proteger Jesus?! Mas o evangelho prega o caminho inverso como sendo amor – manifestação da graça: ao invés de um Deus que se apresenta para salvar a Si mesmo, um Deus que morre em nome do pecador. A suposta bondade de Pedro era “anticruz”, movida pelo anticristo. Qualquer olhar desatento interpretaria um amor genuíno da parte de Pedro, enquanto o que havia ali era uma camuflagem para perversão do evangelho da cruz. E o que dizer de Pedro pensar em perder a própria salvação em prol de manter Jesus fora da cruz? Acontece que Pedro, além de não entender o plano da salvação, na primeira oportunidade que teve negou a Jesus amando mais a si mesmo. Então, não era isso que estava ali em questão. O amor do homem a Deus não pode vir antes do amor de Deus ao homem, não pode partir do homem - ele sempre parte da cruz, vive pela cruz e retorna para o Cordeiro da cruz. O que estava acontecendo era a negação da Justiça e da Graça: do Reino de Deus que seria manifesto e exaltado no Calvário. É nítida a presença do anticristo tentando negar a graça, a justiça, O Reino de Deus e a salvação do pecador. Satanás certamente não queria ver a manifestação do Reino de Deus que se dá em uma cruz para a ressurreição! Essa seria apenas a primeira vez que Pedro demonstrava crer na sua própria justiça, mais do que na justiça de Deus - ele iria tentar “salvar o Salvador” (aqui vemos a natureza do homem que se considera “herói”) novamente, se colocando à frente (Jo 18:10-11). Pedro mostra a sua justiça pela espada, mas Jesus mostra Sua Justiça pela cruz.
Pedro não nos parece convincente?! Não é uma filosofia bonita?! O pensamento de Pedro a respeito de bondade e amor ainda era conforme o que o século diz ser bondade e amor - na contramão da cruz. Acontece que todo posicionamento de "amor" que protege o ego de alguém, não é amor - o amor aniquila a iniquidade (o ego, o império do homem, a justiça humana, a compaixão própria, a própria vida), já a bondade de Pedro anuncia: "tem compaixão de Ti" ou “salva a Ti mesmo”. Não são opostos?! Não é uma pregação egocêntrica?! O amor não guarda a própria vida, o amor doa; o amor não visa salvar a si mesmo, não é egoísta; o amor sempre passa pela cruz simplesmente porque o amor é de graça. Quem ama a Deus, passou pela cruz e continua carregando a cruz; quem ama o próximo passou pela cruz e continua carregando a cruz. Na cruz está a manifestação de amor e de Justiça de Deus, na cruz está a sabedoria e a perfeição de Deus expressa. O amor jamais negaria a justiça e jamais tomaria outro caminho senão a cruz! Quando há o desvio da cruz, há a negação tanto da justiça quanto da graça e isso não é aceitável.
O posicionamento de Pedro estava declaradamente contra a cruz, com o propósito de desviar O Cristo da cruz, e, da mesma forma, todo "amor" que se desvia da cruz é uma fraude, um engano terrível. Bondade e amor que negam a Reta Justiça e a Graça só pode ser o anticristo disfarçado de anjo de luz! Não existe santidade sem justiça, e Reta Justiça. O amor é graça, não existe amor sem cruz. O amor pregado no evangelho não entra em choque com a Justiça de Deus, já que o evangelho prega a cruz onde o dilema entre amor e justiça de Deus é resolvido.
Talvez o grande equívoco, que leva o enganador a fazer festa nos meios cristãos, esteja em considerar que o Novo Testamento prega o amor em detrimento da justiça, da lei. Mas isso seria o mesmo que afirmar que o amor anula a santidade de Deus e passa por cima dela, o que é falso - o amor afirma a santidade de Deus! O amor cumpre os mandamentos e os sobrepuja! Na cruz Cristo cumpre a lei, sacia a justiça de Deus e não é contra ela. O amor é o primeiro a acabar com a iniquidade e não massageia o ego do culpado, ao mesmo tempo que prega a graça que toma o lugar do culpado e, dessa forma, o crucifica em Cristo para novidade de vida.
Outro engano comum, que nega a graça, é causado pelo ego do homem. O homem tem em si que o amor está dignificando os seus méritos, mas o amor vinculado a méritos nega a graça. Amor de Deus e dignidade humana são incompatíveis. É comum o homem considerar que Deus o ama porque ele tem valor, mas o amor de Deus que anuncia a graça está pregando justamente o oposto. O amor não está fundamentado na pessoa a ser amada, mas apenas naquele que ama. É um ato de graça, um ato imerecido. O problema é que o homem vive em torno de si mesmo, de méritos, de compra e venda, de ego. O homem acredita mais em si do que em Deus e isso nós vemos até em Pedro. Pedro acreditava muito em si mesmo, a ponto de considerar que podia manter a sua fé por si e nunca negar o Cristo. Mas sua natureza demonstra ser egocentrista e inimiga de Deus na primeira oportunidade que tem de salvar a si mesmo. E Pedro O nega três vezes.
Há muita gente por aí matando e morrendo porque não sabe discernir entre a pregação da graça plena anunciada de modo gracioso, dessa insana pregação da lei disfarçada de graça. Aqui, todo cuidado é pouco. Há quem, em nome do amor, aceita toda e qualquer doutrina sem saber discernir Verdade de mentira. A cruz está sendo negada o tempo todo!
Certa vez, alguém disse: "bondade que não repreende não é bondade, é passividade". Amor que se conforma com a injustiça (com o desvio da Justiça), não é amor, é perversão. A Verdade não pode ser sacrificada no altar da unidade, porque unidade sem Verdade não é amor e só o amor gera verdadeira unidade. É muito mais fácil o anticristo enganar usando uma falsa bondade, como fez com Jesus, ou usando de um elogio, como fez com Paulo, do que usando de uma crítica - por exemplo. Apresenta-se portanto a necessidade de saber discernir e destaca-se o valor do conhecimento da Verdade.
É sempre bom avaliar o "amor" propagado fazendo a simples pergunta: onde está a cruz nesse "evangelho"? Evangelho (amor de Deus/ salvação), sem cruz não é cristianismo! Sim, repito: AMOR SEM CRUZ NÃO É CRISTIANISMO! O amor de Deus passou pela cruz para cumprimento da Justiça. Nenhum amor pode se desviar da cruz e da justiça. E nenhum amor pode ser desvinculado da GRAÇA.
É bom avaliar, não apenas as pregações nos meios atuais que estão tão distantes da cruz. mas também o que nós consideramos ser amor, e como nós temos amado o próximo, como também - e principalmente - a Deus. A cruz sempre coloca a justiça e a graça em evidência e, se algum dos dois itens estiverem ausentes, o enganador está detectado!
Amanda Ortega.