Só Deus É Bom




"E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus." (Marcos 10:17,18)

Só Deus é bom. Isso significa que Deus não pode aceitar qualquer coisa que não venha dEle mesmo, porque ninguém além dEle pode produzir algo bom. Deus não pode aceitar fruto da minha potência, da minha força, da minha capacidade, do meu trabalho, do meu esforço, do meu sacrifício, do meu ego. São todos trapos de imundícia.

Deus é bom e só Ele sabe produzir o que é bom!

Deus é Justo, isso significa que eu não sou justa e não posso produzir justiça. Todas as minhas tentativas de justiça são, essencialmente, injustas. A questão é: o que um Deus Justo fará com uma pessoa injusta? Quanto mais eu produzir frutos de mim mesma, pior fica a minha situação para com Deus!

Isso é a religião.
Religião é condenação na certa. Religião é o homem afirmando e reafirmando a sua própria condenação.

Nessa passagem temos um homem que cumpria todos os mandamentos, crendo com isso poder comprar a salvação. Mas se esquecia do fato de Deus sondar suas intenções, motivações e a sua essência corrupta, que não pode produzir justiça.

Ele desconsiderava o primeiro e o último mandamento, que não podem ser sondados por qualquer tribunal humano, mas o tribunal de Deus os condena. A lei começa evidenciando que o homem é egocentrista, idólatra de si mesmo e, portanto, não ama a Deus. Isto é, a lei já começa mostrando que o homem não pode, por si mesmo, alcançar a Deus, amar a Deus - e isso é condenação. A lei condenou o homem, apenas mostrando que o homem era condenado pela santidade de Deus! O problema não está na lei, ela é justa e perfeita, revela um Deus Santo; o problema é que o homem não é capaz de corresponder as expectativas de um Deus perfeito, que exige perfeição, e, portanto, a lei se torna inapta para justificar o homem. Para encerrar, o último mandamento, "não cobiçarás", confirma que todos os outros não passam de resto, consequência da cobiça humana. Em outras palavras, os demais oito mandamentos poderiam ser cumpridos, mas então, no décimo, Deus afirma: "desista de si mesmo! Tudo o que você possa fazer não será suficiente!". Ele deixa em evidência o pecado na essência do homem, o qual não pode ser melhorado ou exterminado com boas obras. O último mandamento condena todo e qualquer homem! Deixa em evidência a carência de um Salvador que venha matar tal natureza - o ego. O pecado não está nas atitudes, mas no ego e este só Cristo pode crucificar. Tentar produzir boas obras é apenas mais uma manifestação do ego e é uma prática condenada por Deus!

O homem, por si, não é capaz de produzir boas obras, quer antes da salvação, quer depois. A salvação ocorre com a crucificação do ego, comprovada pelo arrependimento, e, tendo o ego sido morto, ele não mais vive - agora Cristo mesmo é quem vive nesta pessoa e produz boas obras. Estas sim são aceitas por Deus, porque são dEle, por Ele e para Ele!
Em outras palavras, enquanto a religião anuncia as boas obras para a salvação do homem, o evangelho afirma a salvação para a produção de boas obras pelo Espírito. Evangelho e religião são, portanto, opostos!

Ego vivo é sinônimo de condenação e morte, quer ele esteja visivelmente depravado, quer esteja reprimido, revestido de boas aparências, bem moldado, treinado e conformado. Isso porque o ego é, em si, a depravação humana.
Aquele homem podia estar revestido de boas aparências, entretanto, Jesus questiona a sua cobiça, ainda existente. Onde estava o amor, o deleite, daquele homem? E esta mesmo, a cobiça, manteve este homem distante de Deus, como sempre. Jesus questiona o homem com dois simples mandamentos, o primeiro e o último.

"Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" (Marcos 10:19-22)

A riqueza maior para este homem era os seus bens, a sua vida, o seu ego, as suas conquistas. Entretanto: "Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á" (Lucas 17:33).


Não é preciso ir muito longe. Se agora mesmo eu parar alguém na rua e lhe fizer a simples pergunta: “você vai para o céu? ”, terei duas respostas distintas baseadas no mesmo fundamento: a capacidade humana de ser considerada boa. Terei, da nata da sociedade, as respostas:

1) - Sim, com certeza! Eu leio o que considero sagrado, rezo, faço jejuns, vou na igreja toda semana, fui batizado, sou caridoso, não mato, não roubo, não desejo o mal do próximo. Além disso eu parei de mentir e de fumar!

Esse é o tipo de resposta do homem que temos visto na passagem bíblica, ele me apresenta o seu extenso currículo. Ele se esforça para fazer com que Deus fique lhe devendo a salvação, porque tenta a comprar com seus méritos. É soberbo e se enche de vanglória.


2) - Não! Eu acho que eu não vou para o céu porque, por mais que eu me esforço, não me acho bom o suficiente. Eu acho que Deus deve estar furioso comigo porque eu sou falho.

Esta resposta pode nos aparentar oposta à primeira e pode nos parecer humilde e justa. Porém, está debaixo do mesmo jugo religioso. Ambas estão fundamentadas na potência humana, no mérito, na conquista, na dignidade. Em ambos casos as expectativas das pessoas estão em si mesmas, porém, no evangelho, toda expectativa do homem está EM CRISTO. Muito raramente encontraremos alguém nos dando a resposta: “Sim, eu tenho a Vida eterna vivendo em mim e vou para o céu simplesmente porque Jesus me justificou; eu nada sou, mas Ele é suficiente por mim e, agora, em mim!”. A salvação não está no currículo do homem, mas no currículo do Cristo, isto é, na justificação. Vemos que o Redentor nem sequer é citado pela humanidade, mesmo quando o assunto é propriamente a salvação. Toda vez que nos afirmamos, estamos negando o Cristo! Isto é, toda vez que nos justificamos ou tentamos nos justificar, estamos negando a Justiça de Deus que é Cristo. Toda vez que declaramos a nossa capacidade de sermos bons, ou que buscamos essa capacidade, estamos negando a suficiência de Deus. Isso não é razoável, quando negamos o Cristo a ira de Deus permanece sobre nós!


No Reino de Deus não existe espaço para “suficiência humana”, simplesmente porque Deus é suficiente. Não há outro justo, não há outro bom. No Reino de Deus não existe reinado do ego. No Reino de Deus só existe um: o próprio Deus. Só Deus é!

No Reino de Deus não existem grandes homens, existem apenas pessoas que se arrependeram de si e foram preenchidas pela suficiência e excelência de Deus e é exatamente na ausência dessas pessoas que Deus manifesta o Seu poder. Apenas o “EU” de Deus é existente. Não há como ser diferente, o operar da graça está em libertar o homem de si mesmo.


Os olhos da religião estão em busca dos bons, isto é, dos fortes, dos potentes, dos justos. Mas a Bíblia vai nos dizer que não há um justo sequer! Não há quem seja bom, não há quem possa conquistar algum vestígio de status positivo perante Deus. A voz da religião clama por ego o tempo todo: “vá, tenha, seja, conquiste! Você pode, você consegue, você É!”. Existiria alguém mais interessado em exaltar o meu ego do que o próprio diabo? Existiria alguém mais interessado em negar o Cristo do que o próprio anticristo? Sabendo ele que o meu ego é o meu próprio cativeiro e minha condenação, ele é o primeiro a soar em meus ouvidos quando alguém pisa no meu calo: “você vai deixar por isso mesmo? Como assim? Poxa, você tem valor, você é filha de Deus. Vá e se justifique. Você é o cara! Vamos, mostre que você é”. E não foi nisso Jesus tentado no deserto também?! Porém o evangelho me ensina que não sou eu que me justifico, mas é Cristo – Ele é por mim. E não há qualquer valor em mim, antes o meu valor está na cruz onde tenho um encontro real com Deus e sou livre desse ego que tanto tempo me deteve e sufocou. A religião grita ego aos quatro cantos da terra!


“Que venha os fortes, que apareça os bons!”. O mundo que diz ser para os fortes mas que só contém impotentes soberbos, juntamente com a religião, anunciam um caminho exatamente oposto ao que Jesus nos ensina. Aquele homem procurava em Jesus um exemplo de justiça e bondade (como é natural de qualquer religioso, eles vivem procurando no pico da sociedade os fortes, os melhores exemplos de ego exaltado), mas Cristo não é um exemplo de vida e sim a própria Vida. Jesus (filho do homem) manifesta ser totalmente dependente do Pai, e Cristo (filho de Deus) só revela que Deus é. Jesus Cristo nega o sistema em que vivemos e a crença anunciada por tal.


Me desculpe ser franca, mas ainda assim direi: Se há quem se considere bom, seu lugar não é em Cristo, mas na religião! Em Cristo não há lugar para outro, só para Ele mesmo e isso significa, sim, que para estar em Cristo o ego deve ser morto.

Evangelho não é para os "bons", não é para gente que se considera super-herói. Evangelho é salvação, e só reconhece que precisa de salvação aquele que primeiro não se considera suficiente para se salvar. Evangelho é para gente caída, miserável e carente de Deus que, pelo arrependimento, se reconhece como tal e crê na suficiente justiça de Deus satisfeita em Cristo Jesus.


"Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento" (Mt 9:12,13).




Amanda Martins Ortega