Permanece Naquilo que Aprendeste




“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” 2Tm 3.14-17


Há algum tempo, fiz uma série de estudos, do capítulo 3, desta segunda carta de Paulo a seu amado filho na fé, Timóteo. Nesses, foram abordados assuntos como as características que o apóstolo via dos últimos dias, bem como a certeza do sofrimento na caminhada e vida cristã. De forma resumida, podemos afirmar que os tempos tornar-se-ão cada vez mais sombrios, e que todo aquele que andar em fidelidade com Cristo passará por tribulações e aflições em nome do Senhor.

Neste texto, entretanto, meu desejo é de expor algumas considerações que podemos retirar dos versículos demonstrados acima. Convém lembrar, naturalmente, que Paulo está escrevendo sua última carta, e que, ciente disso (2Tm 4.6), dá conselhos valiosos ao jovem pastor de Éfeso.

De início, então, a ordem de Paulo a Timóteo é que este tenha um comportamento diferente dos homens cruéis e de má índole que o apóstolo aponta no versículo 13, deste mesmo capítulo. “Tu, porém”, afirma o ancião. Estes homens, que Paulo descreve como “perversos” e “impostores” são a expressão máxima da depravação do homem, visto que corrompem a Verdade a seu bel prazer, “enganando e sendo enganados”. Estes são os falsos mestres, aqueles narrados nos versículos 1 a 5 deste capítulo, que usam de mentiras e palavras enganosas para guiar, de forma errônea, o povo de Deus. Suas pregações e ensinos são heréticos, carregados de doutrinas humanas e de demônios (1 Tm 4.1), apostatando-os da fé e levando alguns a fazerem o mesmo.

Esta ordem, este “tu, porém”, perdura firme ainda em nossos dias. É nosso dever permanecer e lutar. É nosso dever perseverarmos na Sã Doutrina, conforme nos ensinaram o Cristo, os apóstolos, os pais da Igreja, os Reformadores e outros tantos servos fiéis do Bom Senhor. Ainda que vivamos em tempos onde a Igreja tem sido cada vez mais defraudada, a Verdade vendida e corrompida, os valores invertidos e negociados, faz-se necessário que nós, independente de idade, sexo, cargo ou denominação, perseveremos, preguemos e conservemos o Evangelho, as Boas Novas.

Após, Paulo deixa ainda mais explícita a forma como Timóteo deveria ser diferente dos falsos mestres ao afirmar “permanece naquilo que aprendeste e que foste inteirado”. Intrigante é o verbo utilizado pelo apóstolo, “permanece”. Só podemos “permanecer” em algum lugar quando já estamos lá. Só é possível “permanecer” em uma casa quando, em algum momento, nela adentramos. Da mesma forma, a possibilidade de “permanecer” naquilo que aprendemos é real apenas se, em algum momento, de fato aprendemos aquilo. Assim, fica clara a necessidade de estudarmos e conhecermos a Palavra de Deus. Para que nela possamos “permanecer”, primeiro precisamos conhecê-la em algum ponto de nossas vidas. É impossível resistirmos às tempestades e bravas ondas do mar se, antes, nossos pés não estiverem firmados na Rocha (Sl 40.2; Mt 7.24-25).

Deus, pela Sua profunda misericórdia, revela-Se ao homem de modos peculiares. Em primeiro lugar, a todos, através da revelação geral. O que é isso? Basta olhar pela janela de sua casa que você perceberá. Vê pássaros cantando? Vê o vento a soprar? Vê as nuvens nos céus, ou formigas na terra carregando folhas e grãos? Sente o ar adentrando seus pulmões e dando-lhe fôlego para mais um dia? Ouve, em dias de chuva, os trovões e vê relâmpagos a rasgarem os céus? Cada um destes aspectos da natureza clama a existência de Deus, proclama a glória do Criador. A Palavra é bem clara quanto a isso, seja no saltério (Sl 19) ou em uma das cartas paulinas (Rm 1.18-23).

Do mesmo modo, se existe uma revelação “geral”, existe também uma “especial”, onde o Senhor se revela, principalmente, através de duas formas: Sua Palavra e, a maior de todas, em Cristo Jesus. Vemos nas Escrituras a expressão desta verdade no evangelho de João, quando o autor nos mostra a encarnação (Jo 1.1, 14) e na carta escrita aos hebreus (Hb 1.1-3), além dos versículos que servem de base para este texto.

Em suma, isto tudo foi escrito para que fique clara uma coisa: Deus se revela a nós, então, devemos buscá-lo para aí, permanecermos nEle, conforme o apóstolo escreve à igreja de Colossos (Cl 2.6-7). Aquilo que Timóteo aprendeu e foi inteirado resume-se na expressão escrita da pessoa de Deus, a saber, Sua Palavra.

Após tratar sobre a necessidade de “permanecer” naquilo que Timóteo havia aprendido, Paulo faz uma declaração interessante: o jovem pastor aprendera toda esta Verdade desde a infância. Eis aí uma das principais funções de pais cristãos: ensinar a seus filhos a Palavra do Senhor. Quando observamos o Antigo Testamento, encontramos esta preciosidade no livro de Deuteronômio:

“E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; E escreve-as nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas; Para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.” Dt 11.19-21

É na Palavra de Deus que encontram-se os princípios basilares de uma vida sadia, de uma regra de conduta correta e, acima de tudo, onde a “salvação pela fé em Cristo Jesus” é revelada. Nossas crianças, nossos adolescentes e jovens não precisam de entretenimento nas igrejas. Não precisam de “ministérios” de dança ou de coreografia para que tenham uma fé firme, eles precisam da Palavra de Deus. Pregada, exposta e explicada. A Palavra apenas! Uma congregação ou denominação até pode “conquistar” o jovem com base no entretenimento, mas isso nunca será suficiente para verdadeiramente libertá-lo (Jo 8.32).

Ainda sobre este trecho do versículo 15, é de extrema necessidade citar o que foi grifado acima, que a “salvação [é] pela fé em Cristo Jesus”. Não por nossas obras, muito menos por nosso mérito, mas mediante a fé no sacrifício de Cristo. Paulo deixa isso bem claro quando escreve aos de Éfeso e Roma, por exemplo (Ef 2.1-10; Rm 3; 4; 5; 6). Como declarou Pedro, ousadamente, perante o Sinédrio:

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” At 4.12

Mais abaixo, então, Paulo discorre que “toda a Escritura é inspirada por Deus”. Isso quer dizer que, em primeiro lugar, o fato de existir algo registrado através de escritos deu-se mediante um plano divino – não foi mero acaso. Em segundo lugar, que mesmo sendo escrita por homens, a Palavra de Deus é, de fato, do Senhor. Esta “inspiração” quer dizer que o Todo Poderoso guiou e instruiu Seus filhos, santos e profetas a escreverem tudo quanto fosse necessário. E nesta necessidade é que reside o terceiro ponto, a Palavra é suficiente! Deus se revela aos Seus filhos através da Palavra, de modo que não há necessidade de “maiores” revelações. Volto a dizer, se algo vai além do que foi revelado nas Sagradas Escrituras, é maldito. Se fica aquém, e sequer alcança o que expresso nos versículos bíblicos, é desnecessário.

Encaminhando-se para o findar do terceiro capítulo desta carta, então, Paulo afirma algumas características da Palavra de Deus, afirmando que ela é útil para: O ensino, onde o caminho correto é apontado, e o padrão de santidade revelado. A repreensão, pois, quando nossos caminhos divergem do que foi exposto na Palavra, vemos a diferença entre o certo (demonstrado no tópico acima) e o que fazemos de modo equivocado.

A correção, já que após identificar o caminho correto e reconhecer o erro, devemos nos prostrar à Palavra e moldarmos nosso estilo de vida à Ela. E por fim, a educação na justiça, onde prosseguimos para o alvo, aprendendo a dar um passo de cada vez, como uma criança.

Todos estes pontos tem uma finalidade. Nas palavras de Paulo, “para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. A única coisa capaz de transformar nossos corações e nos moldar em “verdadeiros cidadãos do céu” é a Palavra de Deus. Não há salvação, redenção, transformação, mudança de caráter sem as Sagradas Escrituras.

Espero, amado leitor, que tenha conseguido lançar alguma luz sobre estes versículos estudados. É natural que este texto não pode ser chamado de um estudo aprofundado, mas oro ao Pai para que cada ponto aqui comentado esteja gravado em nossos corações deste dia em diante.


Sob a Graça,


Daniel Rodrigues Kinchescki