Quando ansiamos saber o “porquê” do nosso sofrimento




Temos um anseio natural de saber o porquê de algo. É a pergunta que uma criança faz primeiro aos pais. É a pergunta que uma criança curiosa faz a cada momento. É a pergunta que impulsionou um mundo de exploração, invenção e inovação. Por quê?

Não é surpresa, então, que quando encontramos dificuldades, quando experimentamos tragédias e quando nos encontramos em situações que nos entristecem, perguntemos por quê. Quando a dor nos atinge e não pode ser amenizada, quando a doença toma conta de nossos corpos e não pode ser curada, quando a tristeza se instala profundamente em nós e não pode ser consolada, queremos saber as razões. Não é difícil enxergar o que aconteceu — a evidência está estampada em nossos corpos, impressa em nossas almas e gravada em nossas mentes. Mas é muito difícil enxergar por que isso aconteceu. Por que Deus permitiria essa dor incessante? Por que Deus permitiria essa doença angustiante? Por que Deus levaria a pessoa que eu amo? Se Deus se importa e Deus ama, e se Deus ordena e controla, por que isso seria sua vontade? Como isso poderia fazer sentido?

No entanto, as respostas raramente são evidentes. Podemos conhecer as respostas gerais — “todas as coisas cooperam para o bem” e “por amor ao meu nome” — e encontrar algum conforto nelas. Mas, ao examinar as Escrituras e nos dedicarmos à oração em busca de detalhes — ou até mesmo recorrer a profecias, coincidências ou sentimentos internos —, somos confrontados com o silêncio ou a incerteza.

Ofereço quatro respostas para aqueles que desejam saber o porquê de sua tristeza ou sofrimento, seu tempo de enfermidade ou luto.

A primeira é confiar em Deus. Fomos graciosamente salvos pela fé — fé no trabalho salvífico de Jesus Cristo. No entanto, a fé não é uma realidade única, “expresse-a e esqueça-a”. Precisamos de fé a vida toda. Essa fé pede para que não apenas confiemos nossas almas a Deus, mas também nossas vidas, nossos tempos, nossa saúde, nossos entes queridos e tudo mais. Podemos orar, dizendo: “Deus, confiei no Senhor para a salvação, e agora confio no Senhor com o meu sofrimento.” Se podemos colocar confiantemente nossas almas nas mãos de Deus, também podemos fazer o mesmo em relação à nossa saúde, segurança, nossos filhos e tudo o que é precioso para nós. E mesmo que ele escolha não responder às nossas perguntas, podemos saber que ele é eminentemente confiável e que deve ter razões muito boas e um plano muito bom.

A segunda é considerar que resposta realmente o satisfaria. Podemos acreditar que desejamos saber o motivo, mas vale a pena perguntar se realmente queremos isso. Que resposta nos satisfaria? Temos uma mente capaz de compreendê-la? A resposta pode se estender profundamente no passado e se estender muito no futuro. Deus pode estar realizando coisas que exigem conhecimento muito além de nossa habilidade e capacidade de nossas mentes limitadas, pequenas e manchadas pelo pecado. E mesmo que pudéssemos entender, temos certeza de que acharíamos que vale a pena? Ouviríamos a explicação de Deus e a receberíamos com alegria? Precisamos considerar se realmente desejamos receber uma resposta e se qualquer resposta nos satisfaria.

A terceira é desviar a mente do que Deus não revelou e direcioná-la para o que ele revelou. Em vez de procurar as razões de para as nossas tragédias, devemos olhar para o caráter de Deus — todas as coisas que ele revelou sobre si mesmo. Em vez de ceder à tentação de interpretar Deus com base naquilo que sabemos sobre nossas tragédias, é infinitamente mais importante interpretar nossas tragédias à luz do que sabemos sobre Deus. Assim, enquanto suportamos o período de sofrimento, devemos trazer à mente a gloriosa realidade de quem Deus é e o que Deus fez. Em seguida, precisamos considerar nossas circunstâncias à luz dessas verdades.

A quarta é mudar o foco de “o que Deus fez” para “como Deus está usando isso” — e ter cuidado para não confundir os dois. Não precisamos conhecer as razões de Deus para louvá-lo pelos resultados. No entanto, precisamos ter cuidado para não presumir que os resultados são as razões de Deus. A razão pela qual Jim Elliot morreu foi para que Elisabeth pudesse ter o ministério que teve? Talvez. Não podemos saber porque Deus não nos revela. De que forma Deus usou a morte de Jim Elliot para cumprir o seu propósito? Levantando Elisabeth e permitindo que ela tivesse um ministério longo e poderoso. Essas são duas maneiras muito diferentes de ver a questão, e estamos em terreno muito mais firme quando nos concentramos no segundo aspecto. Ao abandonarmos o questionamento sobre o porquê Deus fez tal coisa, ficamos livres para perguntar: “Como Deus deseja que usemos isso de maneira que o glorifique e mostre seu amor ao nosso próximo?” Podemos começar a fazer perguntas como estas: Como Deus provou seu caráter nisso? De que maneiras ele foi fiel às suas promessas? Como crescemos em fé e amor através disso? De que maneira vimos outras pessoas se tornarem mais semelhantes a Cristo? Como essa dificuldade afrouxou nosso amor pelas coisas desta terra e elevou nossos olhos para o céu? Podemos nos alegrar em como Deus está usando nossa tristeza e sofrimento, mesmo que não conheçamos as razões.

Os tempos de sofrimento são uma realidade trágica enquanto habitamos esta terra. E, enquanto os enfrentamos, rogo para que não minimizemos nossas tragédias, apressando-nos em pressupor que conhecemos os propósitos de Deus nelas. Em vez disto, confiemos cada uma delas àquele que se mostrou digno de nossa confiança e de nossa devoção mais profunda. Confiemos nele, olhemos para ele com fé, regozijemos em cada evidência de como ele está usando isso para o bem e aguardemos o dia em que tudo se tornará claro.


Fonte: Cruciforme