Arrependei-vos





O preparo para a vinda de Jesus foi feito por João Batista quando pregava arrependimento. O preparo para a volta dEle é o mesmo! Arrependimento é o único e suficiente milagre que Deus opera. Ainda antes de tudo isso, Deus enviou a lei com o fim de convencer o homem da sua insuficiência, para que estivesse capacitado ao arrependimento e ao recebimento da Graça em Cristo.


O arrependimento não é uma simples mudança de conduta, mas de SER; isso resulta em uma mudança de rumo, atitudes, direção. O arrependimento ocorre quando encontramos a realidade do “EU SOU” de Deus e ficamos convictos da insuficiência e podridão do nosso “eu sou”. É o lugar onde o ego humano se rende, entrega o controle, o domínio e dá lugar para o domínio de Deus. Arrependimento é Deus convertendo o nosso reino no Seu Reino, o nosso ego no Seu “EU SOU”, o domínio do homem na confiança e dependência, a autoconfiança no quebrantamento.


Pessoas podem ser de um proceder irrepreensível e, ainda assim, precisam de arrependimento. Isso porque o arrependimento não está, em essência e primeira instância, ligado à conduta, mas ao ego. A realidade é que a Santidade de Deus e a Sua Graça não simplesmente diminuem o ego humano e nem ao menos ferem ele, mas matam-no! Quando o ego humano sai de cena, o “EU SOU” de Deus entra em nossas vidas e este se chama arrependimento, quando a nossa natureza dá lugar para a Sua natureza que nos vivifica e corresponde o amor de Deus em nós. O arrependimento é o único meio que traz para dentro de nós a natureza divina e pouco tem a ver com ética, moral ou prática, mas com o ser, com o confiar, com o se render. O arrependimento está sempre ligado à fé!


Se arrependa da sua autoconfiança e coloque-a em Cristo, é o que prega o versículo de Marcos – isso é se arrepender e crer no Evangelho: “arrependa-se da sua suficiência e creia na minha suficiência”, diz o Senhor. Arrepender-se é o mesmo que voltar lá no Éden, na queda do homem (quando Eva quis independência/ ter o domínio do conhecimento e, consequentemente, de si mesma) e destruir toda essa natureza soberba que procura autossuficiência. Arrepender-se é voltar ao princípio, ao relacionamento com Deus que é, inevitavelmente, de dependência – porque fomos criados dEle, por Ele e para Ele. O arrependimento que a Bíblia prega não quer dizer meramente: “se arrependa do que você praticou até hoje”, mas “se arrependa de ser! ”. Muitas pessoas talvez não tenham muito do que se arrepender em questões morais, éticas e sociais, mas deveriam se arrepender de si mesmas porque apenas assim poderiam ser compatíveis com o Reino de Deus! É muito mais do que se arrepender de algo que fez, é se arrepender de ter deixado a sua soberba e ganancia (sua carne, seu eu) existir onde só era para existir Deus.


Jó era um homem íntegro, que seguia os princípios de Deus, era moralmente legal e de boas obras. Jó tinha justiça própria e tudo o que um homem poderia ser ou precisar, mas precisava mesmo era de arrependimento. Após perder tudo o que tinha e ser questionado por Deus, Jó fica convicto de que nada é. Apenas em sua fraqueza é que Jó pôde, finalmente, contemplar a glória e a Justiça de Deus e, então, se arrepender.


“Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos. Por isso, estou envergonhado de tudo o que disse e me arrependo, sentado aqui no chão, num monte de cinzas” Jó 42:5,6


Quem olha para Jó, para toda a sua integridade e justiça própria, não entende o motivo do arrependimento. A questão é que até então Jó poderia confiar em sua própria justiça, em seu próprio eu, em seu próprio ser. Mas quando a sua justiça revelou sua fraqueza, Jó pôde contemplar a suficiência da Justiça de Deus e, finalmente, conhece-Lo pessoalmente pelo que Ele é. Jó conheceu o que significa “EU SOU O QUE SOU” e, apenas dessa forma, pôde se constranger e envergonhar do próprio eu e da própria justiça, dando lugar para o arrependimento e o crer na Justiça de Deus. Após conhecer o Reino de Deus e a Sua Justiça, Deus pôde dar a Jó o acrescento e restituir tudo o que havia perdido. Mas uma coisa Jó perdeu de uma vez por todas para que pudesse ganhar o Reino de Deus: Jó perdeu o ego! Jó se arrependeu, de uma vez por todas, de si mesmo, da sua soberba, da sua autoconfiança, da sua arrogância de querer se auto bastar. A realidade é que Jó finalmente pôde compreender o que quer dizer: A Tua Graça me basta e o Teu poder se aperfeiçoa nas minhas fraquezas!


"Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido." Jó 42:2


Em outras palavras, Jó dizia: agora descobri que Tu és, e eu nada sou. O Senhor não pode ser confundido. Os Teus planos não podem ser frustrados. E a minha justiça ou a minha força nada são!


O Evangelho faz tudo e todos convergirem na cruz: um lugar de morte do “eu” e de ressurreição para o Reino de Deus. Um lugar onde Cristo precisou se entregar por nós, já que nós não éramos capazes de justificar a nós mesmos. Sem esse reconhecimento, isto é, sem essa entrega e confiança, não há ressurreição!


Nesse dia, meu único pedido é: Senhor, convença-me revelando-me o Teu caráter, o quanto eu sou pó, e, pior do que isso, o quanto eu sou podre. Enquanto contemplo minha podridão e insuficiência, renderei o meu ser à Tua suficiência, me arrependendo de mim mesma. Me leva ao lugar onde, na Tua Glória contemplo a minha podridão e, na minha podridão, contemplo a Tua glória; um lugar onde a Tua Glória e a Tua Graça fiquem em evidência e, não apenas isso, mas tomem a evidência do meu ser, no constrangimento pelo Teu amor e pela Tua suficiência. Não me permita estar em um lugar de confronto com meus erros, onde tentarei moldar minhas atitudes e, consequentemente, continuarei a confiar em mim mesma e cair mais uma vez na iniquidade de tentar me auto bastar, um lugar de desconhecimento da realidade do meu pecado que sou eu e do desconhecimento da Verdade, um lugar onde nunca passarei de mais uma religiosa; mas leva-me ao lugar de morte, onde encontro a Tua Vida, a ressurreição! Não preciso que O Senhor me molde, preciso que a Tua Graça me ressuscite e ressurreição depende de morte. Quero ser, preciso ser, levada hoje e agora, mais uma e outra vez, como ovelha ao matadouro. Sim, estou pedindo para que me revele a Tua cruz e me leve até ela, onde me unirei na Tua morte para que, finalmente, contigo eu tenha vida, quero dizer, que o Senhor viva em mim. O meu ego precisa ser confrontado pelo Teu Eu e, certamente, sairei marcada desse confronto, nunca mais andarei como antes e sempre estarei sendo lembrada da minha insuficiência, mas, com toda certeza, O Senhor me dará um novo nome, como Tua propriedade: Israel! Certamente sempre me lembrarei do quanto sou dependente de Ti, se me preciso for um espinho na carne, ou um "andar mancando", desde que eu esteja sempre rendida no Teu Altar e a Tua Graça seja o bastante em mim. Em Nome de Jesus, revela em mim o Teu Reino por amor ao Teu Nome, Amém.



Amanda Martins Ortega