Romanos 8.29, II Coríntios 3.18 e I
João 3.2
A Bíblia afirma, em Romanos 8.29, que Deus predestinou o seu povo para ser conforme à imagem do Filho. Ou seja, tornar-se semelhante a Jesus.
Sabemos que Adão, ao cair, perdeu muito – não tudo – da imagem divina conforme
a qual fora criado. Deus, todavia, restaurou essa imagem em Cristo. Portanto, conformar-se
à imagem de Jesus significa restaurar a imagem, voltar a refletir os atributos
do Criador.
O propósito eterno de Deus para nós é tornar-nos conforme à imagem de Cristo.
Já em II Coríntios 3.18 lemos que é pelo Espírito Santo que somos transformados
de glória em glória. Nessa etapa do processo de conformação à imagem de Cristo,
percebemos que nossa perspectiva muda do passado para o presente, do projeto
eterno de Deus para a transformação que ele opera em nós agora pelo Espírito. O
propósito eterno de nos tornar como Cristo avança, tornando-se a obra histórica
de Deus em nós para nos transformar, pelo Espírito Santo, segundo a imagem de
Jesus.
Imediatamente, isso nos leva ao texto de I João 3.2. Afinal, não sabemos como
seremos no futuro, mas sabemos que seremos semelhantes a Cristo. Não precisamos
saber mais nada além disso. Contentamo-nos em conhecer a verdade de que
estaremos com Jesus Cristo e seremos, enfim, semelhantes a ele.
1. As três perspectivas
A partir desta compreensão, temos três perspectivas: o passado, o presente e o
futuro. Todas elas apontam para uma mesma direção: (1) O propósito eterno de
Deus, para o qual nós fomos predestinados; (2) O propósito histórico de Deus,
para o qual estamos sendo todos transformados pelo poder do Espírito Santo; (3)
O propósito final ou escatológico, no qual seremos semelhantes a ele; e o veremos
como ele é.
Estes três propósitos – o eterno, o histórico e o escatológico – se unem e
apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo. Eis
o propósito do Senhor para o seu povo.
Agora vamos ilustrar essa verdade com alguns exemplos do Novo Testamento.
Primeiro é importante que façamos uma afirmação abrangente como a de I João
2.6: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele
andou”. Ou seja, se nos dizemos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo.
Este é o primeiro exemplo do Novo Testamento: temos que viver e andar como
Cristo, o Deus encarnado. Temos que encarnar Cristo em nós.
Alguns podem até ficar horrorizados com a ideia e rechaçá-la de uma vez. “Ora”,
dirão, “não é óbvio que a encarnação foi um evento único, não sendo possível
reproduzi-lo de modo algum?” Sim, foi algo único no sentido de que o Filho de
Deus revestiu-se da nossa humanidade em Jesus de Nazaré, de uma só vez e para
sempre, algo que jamais se repetirá. Mas há outro sentido no qual a encarnação
não foi única: a Graça do Senhor manifestada através da encarnação de Cristo
deve ser imitada por nós. Nesse sentido, a encarnação não foi única, exclusiva,
mas universal. Somos todos chamados a seguir o supremo exemplo de humildade que
ele nos deu ao descer dos céus. Ser semelhantes a Cristo em sua encarnação no
que diz respeito à sua extraordinária humildade – uma humilhação gloriosa.
2. Semelhantes a Cristo no
serviço
O que acontece quando nos comprometemos com essa encarnação? Com esse viver em Cristo
e para Cristo aqui e ahora? Passamos da sua encarnação à sua vida de serviço;
do nascimento à sua vida; do seu início ao seu fim.
Jesus passou sua última noite ao lado dos discípulos, conforme vemos no Evangelho
de João, capítulo 13: “Tirou a vestimenta
de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia
e passou a lavar os pés aos discípulos e enxugar-lhos com a toalha com que
estava cingido”. Ao terminar, retomou seu lugar e disse-lhes: “Ora, se eu,
sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
dos outros. Porque eu vos dei o exemplo” – note-se a palavra – “para que, como
eu vos fiz, façais vós também”.
O que Jesus fez? Ele serviu os seus irmãos. Simples assim.
Há cristãos que interpretam esse texto de forma equivocada; fazem a cerimônia
do lava-pés nos cultos de Ceia ou na semana da paixão. Mas quando isso acontece,
trata-se apenas de uma transposição cultural do mandamento do Senhor Jesus: o
que ele fez, em própria cultura sua cultura, que na verdade era função do
escravo. Quando os cristãos reproduzem a cena no culto, fazem isso sem levar em
conta o tempo e o sentido. Torna-se apenas uma cerimônia, uma manifestação
religiosa, nada mais. Entretanto, a Bíblia afirma que precisamos refletir a
imagem do nosso Senhor. Encarnando e servindo. Como faremos isso? SIMPLESMENTE
OBEDECENDO E FAZENDO O QUE A PALAVRA DE DEUS ENSINA.
Amem-se uns aos outros (Jo 15:17).
Suportem-se uns aos outros (Cl 3:13).
Orem uns pelos outros (Tg 5:16).
Levem os fardos pesados uns dos outros (Gl 6:2).
Edifiquem-se uns aos outros (1 Ts 5:11).
Dediquem-se uns aos outros (Rm 12:10).
Aceitem-se uns aos outros (Rm 15:7).
Deixemos de julgar uns aos outros (Rm 14:13).
Encorajem-se uns aos outros (Hb 3:13).
Não é humilhante nem degradante fazer essas coisas uns pelos outros. São
atitudes semelhantes as atitudes de serviço do nosso Mestre (Filipenses
2.3-11).
3.
Semelhantes a Cristo no amor
A encarnação e o serviço são frutos de amor.
O texto de Efésios 5.2 se divide em duas partes: “vivam em amor, como também
Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma
agradável a Deus”
Na primeira parte, o texto diz que devemos viver em amor. Ou seja, um
mandamento relacionado a nossa conduta, postura, dia a dia, etc.
Mas em seguida, a Bíblia afirma que Cristo nos amou e se entregou a si mesmo
por nós, descrevendo o texto com um aoristo, um tempo verbal passado, numa
clara alusão à cruz.
Ou seja, trata-se de uma ação que já aconteceu, mas está
descrita sem definir absolutamente o seu tempo de duração, ou sem definir com
precisão o tempo em que ocorreu. Um tipo de tempo passado indefinido,
indeterminado. É como se o autor do texto nos convocasse para sermos
semelhantes a Cristo em sua morte, para amarmos com o mesmo amor do Calvário, do
mesmo jeito, ao mesmo tempo.
Essa é a ideia: devemos ser semelhantes a Cristo na encarnação, como cristãos
que lavam os pés uns dos outros, como cristãos dispostos a morrer uns pelos
outros. Encarnar, servir e doar. Isso é, na prática, ser imagem de Jesus.
4. Semelhantes a Cristo na
missão
Por fim, lemos no Evangelho de João 17.18 e 20.21 palavras que carregam um
significado imensamente importante. Não é apenas a “versão joanina” da Grande
Comissão; mas a instrução de que a missão dos discípulos no mundo deveria ser
semelhante a do próprio Cristo.
Em que aspecto?
As palavras-chave são “envio ao mundo”. Do mesmo modo como Jesus entrou no
nosso mundo, também devemos entrar no “mundo” das pessoas. Foi assim que ele
fez: encarnou, serviu e se doou. Para quem? Para a religião? Não. Para as
pessoas.
A medida que olhamos com carinho para as dúvidas do duvidoso, para as
indagações do indagador e para a solidão daquele que se perdeu no caminho,
podemos afirmar e recomendar a fé que professamos. Essa é a verdeira
evangelização: entrar no mundo do outro. Toda missão genuína é missão de
encarnação. E temos de ser semelhantes a Cristo em sua missão.
Você deseja ser mais semelhante a Cristo? Então faça o que ele ensinou, e ande
como ele andou, na encarnação, no serviço, no amor e na missão.
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Professor Leclerc
@professorleclerc
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