Assisti Karatê Kid pela primeira vez quando tinha 11 anos de idade, foi um grande impacto para mim, eu era um pré adolescente magrelo que sofria bulling na escola, e ver alguém na tela com o mesmo biotipo aprendendo uma arte marcial e vencendo os valentões em um torneio de karatê foi simplesmente sensacional. O filme nos pegou tanto que depois de assisti-lo eu e alguns amigos da época fomos correndo em busca de um dojo de karatê para aprendermos a nos defender.
Ralph Machio o astro do filme que interpreta Daniel Larusso, teve uma ideia fantástica. Reunir parte do elenco e criar uma história que fosse a sequencia do que teria acontecido anos depois da franquia dos filmes Karatê Kid, surgiu assim a série Cobra Kai, meus filhos adolescentes amaram de cara, e eu lógico, também.
Há algo que nos chama bastante atenção na trama da série, são os rumos diferentes da vida do campeão Daniel Larusso e o derrotado Johnny Laurence. Daniel se tornou um empresário de sucesso com uma linda família e o respeito de toda a comunidade. Johnny é a imagem do total fracasso, tem um filho com o qual não se entende, vive pulando de emprego, sem esposa, sem família, apenas um zé ninguém sem nenhuma perspectiva de futuro.
Fato é que a maioria das pessoas que começam a assistir a série criam meio que instintivamente um afeto por Johnny, ele deixa de ser o vilão (embora traga ainda consigo alguns estigmas do passado violento) e passa a ser uma figura que atrai a simpatia e até a torcida dos espectadores.
Daniel Larusso o herói do passado que despertava natural empatia pelo que sofria nas mãos de Johnny, agora é um vencedor no presente, ele não chega a ser rejeitado pelo público, mas não atrai tanto quanto o derrotado Johnny. A pergunta a ser feita é: Por quê?
A resposta mais rápida seria: "Nós simpatizamos com quem sofre". Mas em relação ao personagem Johnny, vejo algo mais.
Aqui eu encontro indícios teológicos, nós como pecadores que somos, temos a tendência à compreender melhor a vida de um fracassado moral. De certa forma nos identificamos com Johnny, com seus pecados e suas más decisões que o levaram às sucessivas derrotas na vida, e ai passamos a torcer para que ele reverta tudo isso, que consiga acertar daqui pra frente. Quando torcemos por Johnny, torcemos de certa forma por nós.
Quando vemos Johnny ter uma chance de recomeço e lutar por isso, vibramos como se pudêssemos ver nele aquilo que todos nós de certa forma somos, pecadores tentando acertar (lembrando que o termo usado na bíblia para pecado é algo como "errar o alvo"). Rimos quando percebemos que ele vez por outra incorre nos mesmos erros, sabemos como funciona, nos vemos nesse espelho de ser humano que o personagem nos traz.
Meus filhos brincam comigo perguntando: "Pai o senhor é do time do Johnny ou do time do Daniel?", respondo que sou do time do Daniel, porque queria também ser um Daniel, que com um golpe inesperado venceu uma luta e na sequencia venceu na vida, mas sei que sou mais parecido com um membro do Time do Johnny, o fracassado que passou a vida tentando "Acertar primeiro, acertar firme, e sem compaixão", mas que foi à lona tantas vezes, por ter desferido golpes precipitados, errados e sem nenhuma compaixão dos que me cercavam, e muito menos de mim mesmo.
Como os jovens costumam dizer hoje em dia: "Johnny nos representa". isso é meio doloroso de admitir, mas a verdade sempre machuca onde pretende curar.
Mas imaginem que maravilha é poder ser representado por um outro personagem não fictício, mas real, Jesus, Ele veio ao mundo representar pecadores fracassados como eu e você. Nele não houve erros, apenas acertos (I Pe 1.22). A Bíblia diz que Ele tomou sobre si os nossos pecados e os destruiu com sua morte na cruz (I Pe 2.24). Assim, imperfeitos podem se achegar na presença gloriosa de Deus, tendo sido revestidos de perfeição, não por nossos méritos e acertos, mas porque Jesus acertou por nós os que nele cremos.
Também de um só golpe destruiu a morte que nos assediava por causa dos nossos pecados, nele temos o perdão e a vida eterna (Ef 1.7). Jesus "Acertou primeiro": Ele tomou a iniciativa de nos salvar (I Pe 1.20). "Acertou firme" a morte e o diabo: Ele disse que estava tudo consumado pela sua vitória na cruz (João 19.30). "Com compaixão" ( Ele viu nossa condição e se compadeceu de nós).
Se você se vê muitas vezes no Johnny, quem sabe você poderá se ver também em Jesus. Arrependa-se de seus pecados, creia no perdão de Jesus e comece uma nova vida com a ajuda dele, a verdadeira vitória pode ser sua.
Pr. João Eduardo Cruz
Fonte: Blog do Autor