A Existência de Deus




Dando continuidade aos textos de Teologia Sistemática, após entendermos seus significado e importância, adentramos a temática da Doutrina de Deus, seguindo o exemplo das grandes escolas dogmáticas e da teologia sistemática. E isso é explicado justamente porque, conforme já dito anteriormente, que o estudo da teologia sistemática é o conhecimento sistemático de Deus. 

Ao estudante de teologia, crer que Deus existe não é um dilema. Porém, a fé também deve ser alimentada pela razão. Partindo desse ponto, vamos começar com as pressuposições mais básicas desta realidade: 

  • - Deus existe; 
  • - Ele se revelou em Sua Palavra; 

Claramente, lendo a Palavra de Deus, encontraremos as provas necessárias para fundamentar essa verdade. 




Prova Bíblica da Existência de Deus. 

Levemos em consideração que não há nenhum sentido em falar de Deus se não cremos que Ele existe. Aos cristãos, não há uma pressuposição abstrata sobre Deus, como se Deus fosse meramente uma ideia, ideal, conceito, etc. Os cristãos creem que Deus é um Ser Autoconsciente e Auto-existente e que sim, Deus é origem de tudo o que transcende a criação. 

Dr. Kuyper fala sobre a tentativa de provar a existência de Deus a partir de argumento lógico e racional: “A tentativa de provar a existência de Deus ou é inútil ou é um fracasso. É inútil se o pesquisador acredita que Deus recompensa aqueles que O procuram. É um fracasso se trata de uma tentativa de forçar, mediante argumentação, ao reconhecimento, num sentido lógico, uma pessoa que não tem esta pista”. ( Dict, Dogm., De Deo I, p. 77 (tradução de L. B. ao inglês). 

Sabemos que aceitamos a existência de Deus pela fé, mas não uma fé subjetiva, e sim, baseada em provas que estão tacitamente escritas na Palavra de Deus, sendo a Palavra fonte inerrante da Inspiração Divina. 

Quando iniciamos a leitura de Gênesis 1, lemos que no início, que além de ser o Criador de todas coisas, Deus também é Aquele que sustenta tudo o que foi criado. Deus governa a humanidade. A Bíblia nos prova que tudo o que ocorre neste mundo, ocorre pelo beneplácito de Sua Vontade soberana, e que ao longo da história bíblica, também revela o grandioso propósito de Redenção para os eleitos. Ao longo de diversas páginas da Bíblia, concluiremos obviamente, que os decretos de Deus são infalíveis e que não há nada que não esteja debaixo de Seu controle e determinação. Do Gênesis ao Apocalipse, temos argumentos mais do que claros e concisos sobre a existência de Deus. 

Porém, aqui cabe uma pergunta: além da Bíblia, existem razões, fundamentos, evidências que podem apontar a existência de Deus? A resposta é sim, porém, de antemão, devemos ter em mente que os argumentos racionais são contestáveis, e que essa discussão não é algo novo. Na verdade, as mesmas argumentações são encontradas em diversos compêndios teológicos ao longo da história da Igreja. 

Discorro a seguir acerca do que chamamos de provas racionais da existência de Deus, traduzidas nos seguintes argumentos:




- Argumento Ontológico: sustentando e apresentado de forma mais clara por Anselmo, que aponta que o homem tem a consciência da existência de um ser superior que é integralmente perfeito, e que, existindo este Ser, esta existência em si mesmo é um atributo de perfeito, portanto, um ser com essa absoluta perfeição, necessariamente tem que existir. Porém, este pensamento em si mesmo não nos permite uma conclusão absoluta sobre Deus pois o mesmo apresente Deus como uma ideia. Ideia essa que é previamente concebida na mente do ser humano. Na história das discussões teológicas, vemos Kant invalidando esse argumento e Hegel sustento o mesmo, ou seja, reforço o ponto de que este tema é motivo de discussão há tempos.




- O Argumento Cosmológico: esse é o argumento que trata das “causas” de tudo. Em tese, tudo o que existe no mundo deve apresentar uma causa razoável, o que inclui o universo, apontando para uma “causa” muito maior do que pudesse ser concebida pela mente humana. A contra argumentação básica deste ponto é que se tudo tem uma causa, isso se aplica a Deus também.




- O Argumento Teleológico: este argumento é basicamente o complemento do argumento cosmológico, mas aponta o seguinte: ao observar a inteligência da ordem das coisas em todo o universo, ordem, propósito e harmonia são indicadores que há um Ser inteligente organizando a ordem de tudo. Embora, historicamente, Kant tenha relativizado essa verdade tentando reduzir Deus a uma espécie de arquiteto, o argumento teleológico é superior aos demais. Willian kelley Wright diz o seguinte: “indica apenas a provável existência de uma mente que, ao menos em considerável medida, controla o processo do mundo, suficiente para explicar a quantidade de teleologia que nele transparece”. (A Student’s Philosophy of Religion, p.341). Portanto, há ainda uma resistência filosófica sobre a prova de ser Deus o causador da ordem para estes citados neste artigo, embora uma parte dos teólogos modernos o aceitem como argumento válido. 



- O Argumento Moral: Este argumento apoia-se principalmente na questão da conduta moral do homem e na desigualdade humana em termos da vida presente. Em tese, a forma que os homens vivem hoje será corrigida, ajustada e julgada em um futuro e que este julgamento só pode ser realizado por um justo juiz. Porém, mera moralidade e atitudes ditas corretas não validam em si mesmo a existência de um Ser de perfeição infinita. 



- O Argumento Histórico Ou Etnológico: Na história da humanidade é notadamente claro e também amplamente sustentado pela pesquisa científica e histórica que entre as tribos e nações, há um presente sentimento de religiosidade que é evidenciado pelos cultos característicos destas tribos. Uma vez que este sentimento é um fenômeno comum e universalmente detectável, esta religiosidade, portanto, deve pertencer à natureza humana. De forma natural, há uma busca pela religião, e a lógica nos leva a crer que um Ser superior criou o homem com essa natureza religiosa. Contra esta lógica, é apresentado de forma científica que conforme os povos se tornam mais civilizados, a religiosidade desaparece, portanto, o contra-argumento atribui a busca da religiosidade a povos primitivos ou desprovidos daqueles que tenham mais conhecimento. 



CONCLUSÃO 

O ponto mais importante após a análise destas argumentações é que, para os cristãos, nenhum destes são necessários, uma vez que o cristão entende que Deus revela a Si mesmo de forma suficiente e clara nas Escrituras Sagradas. Isso nos leva a crer também se algum cristão procura meramente nestes argumentos convencer a si mesmo sobre a existência de Deus, é porque há um claro problema em aceitar a inerrância da Palavra de Deus e sua inspiração Divina. 

Se todos pudéssemos crer e de forma lógica e racional em Deus, qual o sentido da fé salvífica que Deus coloca em nosso coração? Se é a justamente a fé e evidência da eleição que parte dEle? (Leia Efésios 2:8-9) 

Conforme citado neste artigo, lemos que Kant e muitos outros filósofos e teólogos se esforçaram intelectualmente para invalidar os argumentos racionais, porém, em contrapartida, vemos que por parte dos acadêmicos contemporâneos há uma grande aceitação dos mesmos. 

Considero relevante esta análise pois o fato dos argumentos não sustentarem de forma inquestionável a existência de Deus, isso não significa que os argumentos não representem nenhum valor, muito pelo contrário. Até mesmo porque servem como testemunho aos cristãos das indicações da existência de Deus, uma vez que apontem as probabilidades da existência de Deus. Uma vez que há probabilidades, até mesmo os ateus confessos precisam admitir que as evidências filosóficas existem e que sustentam o que chamamos de “benefício da dúvida” sobre a Existência de Deus. 



Em Cristo. 



Rev. Marco Cicco 







Bibliografia: 



  • Berkhof, Louis - Teologia Sistemática 
  • Kuyper, Abraham - Dict, Dogm., De Deo I, p. 77 (tradução de L. B. ao inglês). 
  • Wright , William Kelley, A Student's Philosophy of Religion