Uma breve introdução à Teologia Bíblica de
Geerhardus Vos
Gabriel Francisco Mendes[1]
Introdução
O que é Teologia Bíblica? A pergunta é
pertinente, pois, muitas vezes, o termo “Teologia Bíblica” está sujeito a uma
má-interpretação. Entende-se que toda teologia verdadeiramente cristã é
teologia bíblica, no entanto, “a
teologia bíblica ocupa uma posição entre a exegese e a teologia sistemática na
enciclopédia das disciplinas teológicas”.[2] A
teologia bíblica é diferente da teologia sistemática não no caso de ser mais bíblica
e, sim, no fato de que o princípio organizacional do material bíblico é
histórico em vez de lógico. Enquanto a teologia sistemática exibe todo o ensino
da Bíblia em uma ordem sistemática, a teologia bíblica lida com o ensino bíblico
de um ponto de vista histórico e expõe o desenvolvimento, ou a progressividade das
verdades da revelação especial, desde o começo do Cânon até seu fechamento.
Como bem observou Geerhardus Vos, o mais primoroso exegeta do século 20: “A revelação
não foi completada num único ato exaustivo, mas se desdobrou ao longo de uma
série de atos sucessivos”.[3]
Desse modo, cremos que o mundo possui uma história
verdadeira que é contada pela Bíblia, isto é, há uma linha histórica que segue a
ordem: criação, queda, redenção e consumação. Toda a Bíblia é unificada por
esta linha histórica. Nós vivemos nessa história, e a forma na qual
interpretamos através da história nossas vidas, determina, em grande parte, o
que pensamos e como vivemos. Todas as partes da Bíblia oferecem comentário
interpretativo sobre a história, e desvendam o modo como são as coisas e como
elas serão. Devemos pensar mais sobre o que é teologia bíblica e nos voltarmos
à grande história da Bíblia; só assim teremos a real interpretação da história e
veremos o lugar da igreja em tudo isso.
1.
Quem
foi Geerhardus Vos?
Geerhardus Vos “nasceu
em 14 de Março de 1862 em Heerenveen em Friesland na Holanda, e migrou para os
Estados Unidos em 1881, aos 19 anos, quando seu pai aceitou um convite para ser
o pastor da congregação reformada em Grand Rapids, Michigan”.[4]
Seus pais o instruíram fielmente nos princípios do cristianismo e das
confissões.
Geerhardus Vos estudou
nos ginásios de Shiedam e Amsterdam, graduando-se posteriormente, em 1881 com
honras. Estudou ainda no Seminário Teológico em Grand Rapids, em Michigan,
antes de se mudar para o Seminário Teológico de Princeton. O pai de Vos recebeu
e aceitou um convite para pastorear a igreja reformada em Grand Rapids. Desta
forma, sua família, incluindo Vos, se mudou para a América. “Geerhardus Vos ficou
na Faculdade Teológica em Grand Rapids por dois anos, até 1883”.[5] Depois,
Geerhardus Vos continuou seus estudos no Seminário Teológico de Princeton, até 1885.
Seus estudos foram completados na Alemanha, onde passou três anos: um ano
estudando na universidade de Berlim, e os outros dois anos na universidade de Estrasburgo.
Geerhardus Vos recebeu o seu doutorado em filosofia aos 26 anos de idade na
faculdade da Universidade de Estrasburgo em 1888.
Enquanto Geerhardus Vos
permaneceu na Europa, foi-lhe oferecido o cargo de professor de Antigo Testamento
na universidade livre de Amsterdã. Inclusive, “Hermann Bavinck e Abraam Kuiyper,
tentaram convencer Geerhardus Vos a aceitar o cargo, mas Vos decidiu voltar
para a América, pois já tinha aceitado o convite para ensinar na Faculdade de
Teologia de Grand Rapids”.[6] No
mesmo ano em que Vos recebeu o seu doutorado, ele voltou aos Estados Unidos e
se tornou professor de teologia bíblica, teologia sistemática e exegética na
citada faculdade em Grand Rapids, onde serviu por cinco anos, até 1893. Neste
mesmo ano, Geerhardus Vos recebeu o título de “Doutor em Divindade” pela
faculdade de Lafayete.
Em 1894, Vos se casou
com Catherine Smith; ela teve três filhos e uma filha com Geerhardus Vos e
faleceu em 1937. Geerhardus Vos foi ordenado na igreja presbiteriana reformada
da América do Norte e foi professor na faculdade de Genebra na Pensilvânia. Um
ano antes de casar (1893), aos 31 anos, Geerhardus Vos recebeu e aceitou um
convite para ensinar teologia bíblica – uma cadeira recém-criada em Princeton –
onde ensinou por 39 anos de 1893-1932 na faculdade que ele próprio estudou. Geerhardus
Vos se aposentou em 1932 e faleceu em 1949 aos seus 87 anos de idade.
2. Definição e Importância da Teologia
Bíblica
De acordo com James M. Hamilton Jr, a
teologia bíblica refere-se à perspectiva interpretativa dos autores bíblicos:
O que é uma perspectiva interpretativa? É a estrutura de conjecturas e pressuposições, associações e identificações, verdades e símbolos que são tomados como certos, quando um autor ou orador descreve o mundo e os eventos que ocorrem dentro dele. O que é que os autores bíblicos usaram para interpretar essa perspectiva? Primeiro, os autores bíblicos tiveram Escrituras anteriores, [...] segundo, interpretaram a história do mundo desde a criação até a sua consumação, [...] terceiro, interpretaram os eventos e as afirmações que descreveram.[7]
Em suma, teologia
bíblica é o ponto de vista reproduzido no modo como os autores bíblicos
compreenderam a autorrevelação de Deus por meio das Escrituras, da história
redentiva e dos eventos que eles descrevem.
Geerhardus Vos define a
Teologia Bíblica como “Aquele ramo da teologia exegética que lida com o
processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia”.[8] Primeiro,
Vos fala do “ramo da teologia exegética”. Existem vários ramos da teologia que
nós usamos para interpretar a Bíblia, tais como: as regras hermenêuticas e a
exegese. A partir desses estudos, extraímos verdades no texto, e essas verdades
precisam ser entendidas dentro de um contexto maior na qual elas aparecem.
Comentando sobre essa posição de Geerhardus Vos, Mauro Meister diz que:
No processo de fazer teologia, temos vários momentos (a hermenêutica, a exegese, a teologia bíblica) que passa pelo filtro da teologia histórica, o que nos leva a uma conclusão com a teologia sistemática. A teologia bíblica é quem gera as primeiras informações, os primeiros dados até a cruz, que vão ser remetidos para uma sistematização da teologia sistemática. A teologia bíblica lida com esse processo da autorrevelação de Deus que está contido na Bíblia.[9]
Deus falou na história,
ou seja, Deus conversou com o homem na história, Deus se revelou ao Seu povo.
Deus fala no processo histórico. Essa revelação de Deus está contida na
história revelada na Bíblia. Nós lemos a história, entendemos a história,
tiramos as lições da história e formamos essa teologia. A história bíblica está
fundamentada nas realidades da criação, queda, redenção, nova criação e
consumação dessa nova criação. É isso que Albert Wolters afirma:
Estas realidades centrais – a criação, a queda, a redenção – são os pontos fundamentais da extensão bíblica. Quando olhamos através das lentes corretivas da Escritura, percebemos que em todos os lugares as coisas da nossa experiência começam a se revelar como criadas, sob a maldição do pecado, e ansiando pela redenção[10].
Na definição que Geerhardus Vos nos
apresenta, o termo “revelação” é tido como um substantivo que indica ação. Portanto,
a teologia bíblica trata da revelação como uma atividade de Deus, e essa
revelação liga-se, inseparavelmente, à atividade de redenção de Deus. A
respeito dessa ligação entre revelação e redenção, Vos nos fala que:
A redenção não poderia ser de outra maneira a não ser em sucessão histórica, porque ela se dirige à sucessão de gerações da humanidade que vem à existência no curso da História. Revelação é a interpretação da redenção; ela deve, portanto, se desdobrar em etapas como a redenção o faz.[11]
Mesmo assim, é evidente
que o processo de revelação não é amplo como o processo de redenção, pois a
revelação chega a um fim em certo ponto, enquanto que a redenção continua. Para
entendermos melhor, Vos leva em consideração uma distinção importante dentro da
própria redenção:
A redenção é parcialmente objetiva e central, e parcialmente subjetiva e individual. Pela primeira, designamos aqueles atos redentores de Deus que aconteceram a favor, mas fora da pessoa. Pela última, designamos aqueles atos de Deus que atingem o interior da pessoa. Chamamos os atos objetivos de centrais porque, uma vez que acontecem no centro do círculo de redenção, eles se ocupam igualmente a respeito do mesmo ponto, e não estão em necessidade ou capacidade de repetição. Tais atos objetivos centrais são a encarnação, expiação e ressurreição de Cristo. Os atos, na esfera subjetiva, são chamados de individuais porque são repetidos em cada indivíduo, separadamente. Tais atos subjetivos individuais são a regeneração, justificação, conversão, santificação e glorificação. Dessa maneira, a revelação somente acompanha o processo objetivo-central e isso explica porque a redenção vai além da revelação. Insistir em que a revelação acompanha a redenção subjetivo-individual traria implicações de que ela lidava com as questões de foro íntimo e pessoal em vez de os anseios da coletividade no mundo quanto à redenção.[12]
Existem três fontes de revelação sobre
Deus: primeiro, a natureza. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O apóstolo Paulo, em Romanos, diz
que “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a
sua própria divindade, claramente se reconhecem desde o princípio do mundo” (Rm
1.20). Segundo, a própria consciência do homem é uma fonte de revelação, pois,
no capítulo 2 de Romanos, o apóstolo Paulo fala que a lei de Deus está gravada
na consciência do homem, isto é, o instinto dentro do homem da existência de
Deus e de um código ou padrão moral. Terceiro, a palavra de Deus, que é a fonte
mais importante, a fonte completa e base de toda teologia bíblica, isto é, a
revelação que Deus fez de si mesmo, primeiramente, no período do Antigo
Testamento, quando Deus se revelou a Abraão, a Moisés, aos patriarcas, aos
profetas, aos juízes e reis, até a sua revelação maior na pessoa do seu filho
Jesus Cristo, testemunhada pelos apóstolos, que são os discípulos que Jesus
chamou a si e lhes deu a incumbência de registrar essa revelação.
É em cima dessas três
fontes de revelação de Deus que se ergue o edifício da teologia bíblica.
Naturalmente, a teologia vai variar de acordo com a liberdade que o teólogo vai
dar a cada uma dessas fontes para regular a sua conclusão. É nisso que vemos a importância da teologia
bíblica. O teólogo que der mais atenção a revelação que Deus fez de Si mesmo na
natureza, acabará dando uma posição secundária às Escrituras; é o que chamamos
de teologia natural, que desemboca no conhecido liberalismo teológico, que é
uma teologia que surgiu na Inglaterra após o Iluminismo, em que os teólogos
estavam querendo acomodar as pesquisas científicas, de como funciona a
natureza, à revelação bíblica, excluindo todo o sobrenatural; porque olhando
para natureza não se vê o sobrenatural: ressurreição, anjos e curas
miraculosas. Se tomarmos a natureza como base da teologia, teremos uma teologia
natural, que exclui todo sobrenatural, chamada de Deísmo.
O teólogo que der mais
atenção a revelação de Deus no coração humano, corre o risco de desenvolver uma
teologia psicologizada e subjetiva, baseada nas impressões e no subjetivismo
humano. A teologia tem que seguir sobre a sua base principal que é as
Escrituras. Quando os teólogos procuram tirar suas conclusões a partir da
exegese, da interpretação e da teologia bíblica, a teologia fica útil,
consistente e poderosa para organizar os nossos pensamentos.
Na Bíblia nós temos a
revelação de Deus através da história. A Bíblia fala de muitos temas diversos
espalhados ao longo dessa revelação, ao longo de vários anos; então, a teologia
bíblica explica o desenvolvimento progressivo dos temas bíblicos, pois, como diz
Geerhardus Vos: “A revelação não foi completada num único ato exaustivo, mas se
desdobrou ao longo de uma série de atos sucessivos”.[13] Concordando
com esta linha de pensamento, George Ladd afirma que “o propósito óbvio da
Bíblia é contar a história a respeito de Deus e de seus atos na história para a
salvação da humanidade”.[14] Portanto,
não existe a possibilidade de lermos a Bíblia sem fazermos teologia bíblica,
porque para entendermos a Bíblia corretamente, precisamos interpretá-la para
que o que estamos lendo faça sentido. A liberdade que o teólogo der a uma das
três fontes de revelação de Deus determinará a sua interpretação final das
Escrituras. A teologia tem que se erguer sobre sua base principal que é a
Escritura. Daí a importância da teologia bíblica.
3.
A
autorrevelação de Deus na Teologia Bíblica de Geerhardus Vos
O tema central abordado
por Vos em sua obra, é a autorrevelação de Deus ao longo da história. Vos
organiza seus argumentos de acordo com as sequências históricas das narrativas
bíblicas que aconteceram em diversos momentos da história da redenção do povo
de Deus. Esta abordagem progressiva da revelação é chamada de “progressão
histórica”.[15]
Evidentemente, existe uma distinção entre a revelação geral e a revelação
especial; e a revelação se dá antes e depois do pecado. Como Vos entende que
revelação é a interpretação da redenção, é natural entender que “a única
posição lógica é que, se uma história da redenção é necessária, ela deveria
começar com Adão e Eva”; [16] e
a partir daí, essa história se desdobra em atos sucessivos de Deus. A Bíblia
possui um arco narrativo que começa com a criação e vai até a consumação final
de todas as coisas; e como a teologia bíblica trata da autorrevelação de Deus,
o protagonista desse trama cósmico é o Deus Trino.
Para exemplificarmos
melhor o que vem sendo tratado até aqui, temos cinco episódios bíblicos
fundamentais, apresentados por James M. Hamilton Jr, que deixam claro a
revelação como interpretação da redenção:
Exílio do Éden.[17] Adão e sua mulher habitavam no lugar perfeito, onde havia uma só proibição. Eles transgrediram, [...] Deus havia criado esse lugar. Quebraram a sua lei. Ele havia prometido a morte por isso, [...] Êxodo do Egito. Deus enviou dez pragas. O primogênito morreu. O sangue do Cordeiro marcou os umbrais das portas. O pão asmo foi comido às pressas, [...] os autores bíblicos posteriores trataram os eventos da saída do Egito como um paradigma da salvação de Deus, [...] Moisés flutuou em uma arca, [...] Deus humilhou o forte e orgulhoso Faraó, [...] a morte do Cordeiro da Páscoa redimiu os primogênitos de Israel, [...] Exílio da terra. Uma vez na Terra prometida, Israel fez exatamente o que Moisés profetizou que fariam (Dt 4.26-31) A nação de Israel era como um novo Adão, em novo Éden. Como Adão, eles transgrediram. Como Adão eles foram expulsos, [...] A cruz. Jesus ensinou os discípulos a compre-lo através dos acontecimentos paradigmáticos da queda, do dilúvio, do êxodo e do exílio. Noutras palavras, os eventos na história de Israel funcionam como esquemas ou matizes e são usados para comunicar o significado de quem era Jesus e o que ele realizou, [...] Jesus é o novo Adão, cuja obediência vence o pecado de Adão (Rm 5.12-21). Deus identificou Israel como seu filho, e Jesus veio como representante de Israel, [...] A volta prometida, [...] Jesus ascendeu ao céu e foi recebido nas nuvens, com um anjo anunciando que Jesus voltará, assim como foi visto subir – nas nuvens do céu.[18]
No âmbito da distinção
entre revelação geral e revelação especial, vemos que o mundo não é uma cortina
que esconde o poder de Deus, pois “os céus proclamam a glória de Deus, e o
firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). A criação prova que
existe um Criador poderoso. É isso o que Paulo afirma em romanos 1.19-21, e no
seu discurso em Atos 17.28. Essas certezas evidentes são o conteúdo da
revelação geral. Essa é a forma que Deus tem se revelado desde o começo da história.
Ele, de forma definitiva, revela os seus atributos a todos, de modo que nenhuma
negação de termos recebido esse conhecimento será admitida.
Além da Revelação
geral, Deus acrescentou a revelação de Si mesmo como o salvador de pecadores
por meio de Cristo. As palavras e atos de Jesus, o Filho encarnado de Deus,
constituem a plena revelação da mente, do caráter e do propósito de Deus, o Pai
(Jo 1.18). Essa revelação foi realizada na história e registrada na Escritura,
e ainda inclui as afirmações verbais explícitas de tudo que a revelação geral
nos comunica a respeito de Deus. É isso que chamamos de revelação especial.
4.
Aplicações
da Teologia Bíblica de Geerhardus Vos
A teologia bíblica é
uma ferramenta indispensável à interpretação das Escrituras. Ela ajuda o
pregador na condução da sua pregação e ainda auxilia o pastor na prática do
aconselhamento.
1) A teologia bíblica é
uma disciplina fundamental para a interpretação bíblica, pois, a hermenêutica
não se isola de outros campos de estudo bíblico. Segundo Augustus Nicodemus:
“hermenêutica e teologia bíblica estão muito proximamente relacionadas no
círculo hermenêutico. Existe uma dependência entre as duas disciplinas porque
existe a necessidade de interpretar e fazer teologia”.[19]
Este relacionamento entre teologia bíblica e hermenêutica é defendido por Henry
Virkler, quando ele afirma que a teologia bíblica: “Tenta mostrar o
desenvolvimento do conhecimento teológico através dos tempos do Antigo e do
Novo Testamento”.[20]
De fato, o antigo e o
Novo Testamentos revelam Deus e apresentam Cristo, mas o faz dentro de uma
continuidade progressiva; do contrário, poderíamos ter uma compreensão
inadequada de algumas doutrinas das Escrituras. Por isso, Bryan Chapell nos
fala que:
Houvesse Deus revelado a si mesmo totalmente à fé dos nossos antepassados, eles não teriam tido a base lógica ou preparação bíblica para recolher tudo quanto Deus, desde então, revelou à humanidade acerca de si mesmo. Por essa razão, a revelação de Deus no curso da história bíblica foi progressiva.[21]
A ceia do senhor, no
Novo Testamento, é um exemplo claro e pertinente: não podemos compreendê-la
adequadamente sem que a relacionemos com a Páscoa no Antigo Testamento;
entendemos claramente, de acordo com a progressividade histórica, que os pães
asmos e as ervas amargas dão lugar ao pão e ao vinho. Da mesma forma, não
podemos compreender o batismo no Novo Testamento, se não enxergarmos ele como
um desenvolvimento da circuncisão.
2) Os pastores precisam
aprender a usar a teologia bíblica em suas pregações. Os pastores lutam
constantemente para defender a inerrância das Escrituras e, mesmo abraçando a
inerrância delas, ainda assim, em muitos casos, falham na sua proclamação, isto
é, abraçam a sua inerrância, mas negam na prática a sua suficiência. De acordo
com Henry Virkler, “o servo de Cristo deve fazer mais do que pregar a palavra. É
possível ser fervoroso, eloquente e ter excelente conhecimento das Escrituras
e, não obstante, pregá-la com inexatidão ou ficar aquém de sua plena verdade”.[22] O
resultado disso é uma quantidade muito grande de pregações moralistas. O
resultado de tais pregações é um enchimento de nossas igrejas de pessoas não
convertidas, que acreditam fielmente em sua salvação, mas que ainda estão
perdidas.
A tarefa dos pregadores
é proclamar todo o conselho de Deus levando a congregação a entender como toda
a Escritura aponta para Cristo, e isso só é possível por meio da teologia
bíblica. De acordo com Bryan Chapell:
Os critérios da teologia bíblica são decisivos aos pregadores que se propõem a expor um texto de tal maneira que permaneça fiel a passagem e consistente com o Evangelho, [...] isso significa que, a fim de expor a revelação bíblica de qualquer passagem, precisamos relacionar nossa explicação com a obra redentora de Deus ali presente, [...] os pregadores não são capazes de explicar satisfatoriamente o que é revelação bíblica, ainda que digam muitas coisas verdadeiras a seu respeito, até que a tenham relacionado ao trabalho redentor de Deus que toda a Escritura, por fim, tem o propósito de manifestar.[23]
A teologia bíblica
mantém nossa pregação nos trilhos, pois, toda a revelação da Escritura revela
Deus e aponta para Ele. Deus usa cada versículo e cada evento registrado da
história bíblica para formar a compreensão de quem ele é.
3) O aconselhamento
está intimamente ligado à teologia bíblica. A relação entre teologia bíblica e
aconselhamento é a base para um “ministério” de aconselhamento sábio na igreja.
Geerhardus Vos diz que: “tudo que Deus desvendou de si mesmo veio em resposta
às necessidades religiosas práticas de seu povo à medida em que essas emergiu
no curso da história”.[24] Isto
quer dizer que as Escrituras são essenciais para a resolução dos problemas que
enfrentamos. De acordo com Wadislau Martins Gomes, “o conselheiro cristão
deverá cuidar que sua teoria sobre a vida e o mundo, [...] seja fundada em
sólida teologia bíblica”.[25]
As Escrituras tratam de
uma única história redentora centrada em Cristo, e nossa história de vida está
inserida dentro dessa história redentora, de modo que é necessário discernir
como nossa história concorda ou não concorda com essa história redentora. É
isso que chamamos de “perspectiva interpretativa”. O modo como encaramos os
problemas e a forma como esses problemas podem ser resolvidos, são determinados
pelo modo como interpretamos os eventos da vida. Após a sua ressurreição, Jesus
apareceu a dois discípulos e os fez compreender como os detalhes do Antigo
Testamento apontavam para Ele (Lc 24.13-35). Da mesma forma, a teologia bíblica
nos ajuda a entender para onde os detalhes de nossas vidas apontam. A pessoa e
a obra de Cristo são o centro teológico e prático do aconselhamento.
Considerações
finais
Nosso objetivo nesse
artigo foi apresentar a teologia bíblica, sua importância e suas
aplicabilidades. Apresentamos também uma rápida biografia de Geerhardus Vos. A
importância dessa rápida biografia se dá pelo fato de expor os detalhes,
acontecimentos e datas importantes da sua vida. Demonstramos desde a introdução
o que é teologia bíblica e que o mundo possui uma história verdadeira contada
pela Bíblia.
Ao buscarmos uma
definição a respeito do que é teologia bíblica, vimos que a teologia bíblica é
o desenvolvimento orgânico da revelação sobrenatural bíblica desde o começo do
Cânon até seu fechamento. Isto nos mostra que existe uma linha histórica que
segue a ordem: criação, queda, redenção, nova criação e consumação dessa nova
criação. Entendemos assim que toda a bíblia é unificada por uma linha
histórica.
Analisando a teologia
bíblica e sua relação com outras disciplinas (teologia sistemática,
hermenêutica, exegese), pudemos constatar sua importância no âmbito da
interpretação final das Escrituras. Vimos que existem três fontes de revelação
de Deus (a natureza, a consciência do homem e a palavra de Deus) e a liberdade
que o teólogo der a uma dessas fontes de revelação, será determinante para a
sua interpretação final das Escrituras.
Finalmente, abordamos o
tema central da obra de Geerhardus Vos e vimos algumas das suas
aplicabilidades. Dentre elas destacamos a teologia bíblica sendo aplicada na
interpretação das Escrituras, na pregação e no aconselhamento.
Referências
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo: Cultura Cristã, 3° ed, 2016.
GOMES, Wadislau Martins. Prática de Aconselhamento Redentivo. Brasilia:
Monergismo, 2018.
HAMILTON, James M. O que é Teologia Bíblica? São Paulo: Fiel, 2016.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia é seus Intérpretes. São Paulo:
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MEISTER, Mauro. Disponível em: <https://youtu.be/eW3NqujSu4g>
Acesso em 11/04/2020.
VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada: princípios e processo de interpretação
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WEBSTER, Lewis Ransom. Disponível em:< https://pt.scribd.com/document/132410697/Biografia-de-Geerhardus-Vos-1862-1949-WTS>
Acesso em 20/04/2020.
WIKIPÉDIA,
enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.qwe.wiki/wiki/Geerhardus_Vos>
Acesso em 11/04/2020.
WOLTERS, Albert M. Criação restaurada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
[1] Estudante de Teologia do Seminário Teológico
Evangélico Congregacional de Caruaru – Extensão Santa Cruz do Capibaribe – PE.
[2] VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura
Cristã, 2019, p. 5.
[3] Ibid., p.16.
[4]
WIKIPÉDIA, enciclopédia livre.
Disponível em: <https://pt.que.wiki/wiki/Geerhardus_Vos>
Acesso em 11/04/2020.
[5] WEBSTER, Lewis Ransom. Disponível em:<
https://pt.scribd.com/document/132410697/Biografia-de-Geerhardus-Vos-1862-1949-WTS>
Acesso em 20/04/2020.
[6] WIKIPÈDIA. Ibid.
[7] HAMILTON, James M. O que é Teologia Bíblica? São Paulo: Fiel, 2016, p. 14.
[8] VOS, ibid., p.16.
[9] MEISTER, Mauro. Disponível em: <https://youtu.be/eW3NqujSu4g>
Acesso em 11/04/2020.
[10] WOLTERS, Albert M. Criação restaurada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 97.
[11] VOS, ibid., p.16.
[12] Ibid.
[13] Ibid.
[14] LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo:
Hagnos, 2003, p. 38.
[15] VOS, ibid., p. 28.
[16]
Ibid., p. 91.
[17]
Grifos do autor.
[18]
HAMILTON, ibid., p. 38-40.
[19] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia é seus
Intérpretes. São Paulo:
Cultura Cristã, 2013, p. 47.
[20] VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada: princípios e processo de interpretação
bíblica. São Paulo, Vida, 2007, p. 11.
[21] CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo: Cultura Cristã, 3° ed, 2016, p.
292.
[22] VIRKLER, ibid., p. 181-182.
[23]
Chapell, ibid., p. 292-293.
[24] VOS, ibid., p. 20.
[25] GOMES, Wadislau Martins. Prática de Aconselhamento Redentivo. Brasilia:
Monergismo, 2018, p. 39.