“Sucedeu que, no momento de ser oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se aproximou, e disse: Ó Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas.Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que tu és o Senhor Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração. Então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos, e disseram: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus! E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou.” 1 Rs 18.36-40
Há um bom tempo Deus tem tocado meu coração para escrever sobre o que é um avivamento. Temos, em nosso cotidiano, em nossas muitas e diversas igrejas, um povo que constantemente clama para que Deus avive sua obra, para que Deus avive suas vidas. Confesso que diante de tantos clamores, meu coração estremece de medo. Sabem eles o que pedem? Conhecem o que é um “pleno avivamento”? Conhecem, ao menos, o estado espiritual em que se encontram?
Nas mais diversas igrejas pentecostais e neo-pentecostais, a palavra “avivamento” está intimamente ligada ao “barulho”, ou à manifestação de dons espirituais dentro de uma igreja. Este texto que citei, onde Elias ora e “cai fogo do Senhor”, serve como exemplo de um que constantemente é interpretado de forma errônea, e leva os crentes a terem um tipo de pensamento sobre “avivamento” contrário ao das Escrituras.
Então, de início, gostaria de dizer que só precisa de avivamento quem está morto, mas um dia viveu, ou quem está morrendo. Triste coisa, como dizia Spurgeon¹, é um vivo espiritualmente necessitar de avivamento. Quando clamamos verdadeiramente por um avivamento pleno em nossas vidas, isto quer dizer que estamos cada vez mais próximos da sepultura. Essa é a realidade. A própria palavra “avivamento” significa “tornar ou tornar-se mais vivo; animar, avigorar”, ou então “reanimar ou reanimar-se; recobrar, despertar”. Em suma, então, toda vez que gritamos e pedimos ao Senhor por um avivamento em nossas vidas, em nossas igrejas, estamos, ainda que de forma inconsciente, declarando que estamos morrendo – ou que já morremos!
Outro ponto que gostaria de comentar sobre Avivamento, sem entrar no contexto dos versículos supra citados, é que somente a Igreja do Senhor é que pode ser avivada. Só quem é vivo, ou um dia teve vida, é que pode ser avivado. Avivamento significa, nas palavras de Spurgeon², “tornar a dar vida”, “tornar a acender uma chama que estava por apagar-se”. Por isto, apenas aqueles que um dia viveram é que podem ser os sujeitos de um avivamento. Isso explica o porquê ser equivocado falar que um “avivamento começa na Igreja e espalha-se pelo mundo”. Não, ele começa na Igreja, e permanece nesta. Segundo ponto, ainda sobre este detalhe, é que um ímpio não pode receber vida novamente. Ele recebe-a pela primeira vez quando converte-se ao Senhor Jesus. O Avivamento inicia-se na Igreja, não espalha-se ao mundo, mas sim no mundo. Como assim? Simples: quando um Cristão é avivado pelo Senhor, o seu jeito de viver muda. Ele torna-se mais alegre, mais fervoroso, pratica as boas obras que a Palavra determina, vive uma fé mais viva. No fim, seus vizinhos notam, aqueles do seu serviço observam e reparam nessas mudanças. É desta forma que um avivamento causa impactos na sociedade.
Pois bem, vamos à Palavra.
Quando da época deste sacrifício realizado por Elias, vemos que Israel precisava desesperadamente de vida, haja vista estarem praticando atitudes cada vez mais errôneas, entregando-se aos prazeres carnais e à idolatria.
Contra aproximadamente 450 falsos profetas consagrados por Acabe e Jezabel, Elias depara-se no Monte Carmelo cercado pelo povo, e lhes faz uma pergunta que deve ecoar em nossos corações diariamente: “Até quando coxeareis em dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (v. 21). Precisamos entender que só existe vida quando perto de Deus. Aparte dEle, não há nada capaz de levantar o homem do lamaçal podre do pecado, do cemitério que é o mundo, e levá-lo aos portões celestes. Que nossa resposta a esta pergunta seja diferente da que deu o povo ao profeta, quando calou-se. Que gritemos em alto e bom som que o Senhor é Deus!
Então, após desafiar os profetas de Baal, zombar deles e do silêncio de seu deus, o profeta Elias trata de realizar o seu sacrifício ao Deus dos deuses. Nesta parte que desejo concentrar o presente estudo, haja vista que podemos notar os mais diversos “estágios” de um avivamento genuíno. Tenho de avisar, entretanto, que este estudo não é um rol exaustivo nem taxativo, não tentando manter o agir de Deus ao que descrito aqui. É apenas uma análise de como Deus avivou seu povo, ou parte dele, nos tempos do profeta Elias, e como isto nos pode servir de lenha para que queimemos ansiosos pelo avivar de Deus em nossas vidas.
Em primeiro lugar, Elias obedeceu a Palavra do Senhor. No versículo 36, na “parte a”, vemos que o profeta ofereceu o sacrifício a Deus “no devido tempo”. Quando Deus está para avivar o seu povo, Ele envia aos mortos pessoas que têm, em seu interior, chamas que queimam como brasas vivas pela obediência ao Todo Poderoso. Ele demonstra qual o caminho certo a ser seguido, e isto através de homens e mulheres que se colocam aos pés de Sua Soberania. Vemos que nos avivamentos que ocorreram nos tempos de Esdras, Neemias, e tantos outros, Deus usava de seus servos e profetas para apontar o caminho a ser seguido pelo povo.
Em segundo lugar, o servo de Deus reconhece a Soberania do Senhor, os feitos de Deus e quem somos nós em relação a Ele. A “parte b” do versículo 36 nos mostra Elias clamando ao ”Senhor” e “Deus de Abraão, de Isaque de e Israel”, como quem traz à memória que Deus está sobre todas as coisas, que nada foge de seu governo, e que nada pode lhe parar. Deus é Senhor, e isto deve nos bastar. Ainda, quando cita os nomes dos patriarcas, Elias lembra a todos os feitos, milagres e maravilhas que Deus fez pelo seus filhos, pelas promessas e mais ricas bênçãos. Deus é quem está no governo de tudo, por isso Ele tem poder para abençoar a quem quer, e principalmente aos seus filhos. Para terminar este tópico, o profeta afirma que é servo do Senhor, que fez tudo aquilo conforme a Palavra de Deus. Precisamos entender que nosso papel diante de Deus é o de obedecer. Somos todos servos, e o Senhor é Deus. Não só isto, mas estamos todos em pé de igualdade: na Igreja do Cordeiro não há espaço para um servo maior que outro. Ainda, nossa obediência está firmada na Palavra, e não nos mais diversos “profetas”, “pastores” e “apóstolos” que surgem como praga no meio de um rebanho um dia saudável. Pode surgir o mais numeroso grupo de “apóstolos”, “bispos”, “pastores” e “pregadores” proclamando o “ano da bênção de Manassés”, ou o “ano da prosperidade”, mas se a Palavra do Senhor nada afirmar sobre isto, que sejam todos anátema!
Em terceiro lugar, Elias oferece o sacrifício a Deus, em honra ao Seu Santo Nome. Ao analisarmos o versículo 37, notamos que Deus é soberano ao ponto de endurecer o coração do homem (Ex 9.12; Rm 9.15-18), para que a glória e louvor sejam dEle, e tão somente dEle. Tudo deve ser feito para a Glória de Deus. De nada valeria a oferta de Elias, os desafios feitos aos “profetas de Baal”, os questionamentos direcionados ao povo se o foco disto tudo não fosse a Gloria ao Senhor. “(…) Para que este povo saiba”, disse Elias, “que tu, Senhor, és Deus (…)”! A glória pertence a Deus, seja na vida, na morte, na fartura ou na pobreza (1Sm 2.6; Jó 1.21), que o nome de Deus seja glorificado, e que nós venhamos a glorificá-lo até mesmo com nossas vidas (1Co 10.31).
Então, pela Graça de Deus, pela sua Soberana vontade, pelo Seu infinito amor, o Senhor respondeu ao sacrifício de Elias. O versículo 38 nos aponta que “então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto (…)”. Nos dias atuais, quando Deus quer manifestar sua Glória à Igreja, Ele lhe concede a manifestação de dons e poder. O povo se alegra na presença de Deus, lágrimas são vistas, curas, milagres e maravilhas são realizados.
Mas, isto não é um avivamento!
Não devemos parar por aí, achando que por Deus manifestar-se entre nós isto é resultado de que somos avivados. No mesmo Monte Carmelo, posteriormente, nos dias do rei Acazias, caiu fogo do céu também, que consumiu dois batalhões de soldados que pretendiam prender Elias e levá-lo ao rei (2Rs 1). Deus manifesta seu poder para que todos reconheçam sua Glória e o seu Poder.
Em quarto lugar, nós vemos os efeitos de um verdadeiro avivamento: reconhecimento do nosso pecado, de nossas misérias, e de quão Santo é o Senhor. O versículo 39 nos narra que o povo cai prostrado ao chão, com o rosto no pó, em sinal de humilhação, e declara que “o Senhor é Deus”, em resposta à pergunta feita no versículo 21. Ante à Santidade de Deus, devemos nos humilhar, prostrados e indefesos, pois nada somos sem Ele, e nada podemos fazer quando longe dEle (Jo 15.5). Como diz o cântico, “sem Deus nada somos neste mundo, sem Deus nada podemos fazer. Nem as folhas das árvores se movem, se não for pelo Seu poder”.
Em quinto e último lugar, ocorre a maior manifestação de um pleno avivamento: o abandono do pecado! No versículo 40 nós vemos que o povo, após voltar-se para Deus, lança mão dos profetas de Baal (idolatria) e mata a todos. O foco de um avivamento, quando Deus quer dar vida novamente ao seu povo, é que este abandone o pecado (a morte) e volte-se ao Senhor, que é o único capaz de dar a vida eterna. Precisamos correr para Cristo, sermos santificados pela Sua Palavra, e vivermos em comunhão com Ele diariamente, para que tenhamos vida, e vida com abundância (Jo 10.10)! A maior característica de um pleno avivamento sempre será a presença de vida, esta dada pelo nosso Salvador.
Que possamos reconhecer quando necessitamos de um pleno avivamento de Deus em nossas vidas, sabendo o que nos é necessário diariamente para que sejamos vivos na boa obra do Senhor, mas que acima de tudo, deixemos “para traz todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia” (Hb 12.1-2) e prossigamos “para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.12-14).
A vida está em Cristo Jesus, nosso Senhor de Mestre. A Ele sejam a glória, poder, louvor, majestade para todo o sempre, amém!
Daniel kinchescki
¹ e ²: What is a Revival? (O que é um Avivamento?) – Charles Haddon Spurgeon
Fonte: Spurgeon.org
Tradução: OEstandarteDeCristo.com