É natural e evidente a dificuldade de se tratar sobre o assunto “ser solteiro”. Vemos uma realidade triste em nossos dias, e me parece que as coisas apenas pioram quando olhamos para o “mundo evangélico”. Pouco é tratado sobre “o que é ser solteiro”, “qual a forma mais bíblica de namoro”, “até onde o casal pode ir” e demais questionamentos típicos de quem ainda não tem uma aliança dourada em sua mão esquerda.
Neste texto, nós (Daniel e Lariane) temos a intenção de tratar um pouco sobre o que é “ser solteiro”, como evitar alguns erros comuns nesta etapa da vida e o que fazer quando não se sabe ao certo a hora de namorar e iniciar um relacionamento. Desde já, creio ser necessário avisar que ainda que estejamos ambos solteiros enquanto escrevemos este texto, temos nossa cota de feridas e delas trataremos para que você, leitor, não precise carregá-las também.
É possível observar em nossas igrejas meninos e meninas (crianças às vezes) preocupando-se de forma exagerada com sua vida amorosa, com seus relacionamentos. De início, é válido deixar algo bem claro aqui: apenas namore quando você já puder (e entenda neste verbo o “ter maturidade”, “ter emprego”, “ter estabilidade” e mais uma série de coisas) casar. Antes disso, não namore. As chances deste relacionamento criar inúmeras feridas em seu coração são enormes.
‘’Deus também sabe que levaremos as memórias de nosso envolvimento físico do passado pra o casamento.’’ Joshua Harris
Realmente é frustrante ler “namore apenas quando for maduro”, ou “namore para casar”, mas este deve ser o pensamento de um verdadeiro cristão. Um relacionamento amoroso, íntimo, não deve ser visto como um “passatempo” ou mera diversão. O flerte, os joguetes de palavras e cantadas não pode existir se a intenção por trás disso tudo não for de levar a outra pessoa ao altar, e com ela viver o resto de sua vida. Chame de “legalismo” se quiser, mas a verdade é que todo relacionamento, por menor que seja, se for mal sucedido, gerará inúmeras feridas e marcas.
Com a premissa de que é necessário estar pronto a casar para se ter um relacionamento com alguém, partimos para a lista de conselhos que gostaríamos de lhe dar.
1º) Nunca, nunca confie em seu coração: A Palavra é muito clara quando afirma que o coração do homem é enganoso (Jr 17.9). É do coração, centro de nossas vontades, que saem os maus pensamentos, a lascívia e uma série de outros pecados igualmente abomináveis ao Senhor (Mt 15.19). Quando confiamos em nosso coração e por ele somos guiados, acabamos depositando nossas esperanças em algo altamente suscetível ao pecado e erro.
Ao sermos guiados pelo nosso coração, sendo ele esta máquina de produzir ídolos e maldade, acabamos confundindo sentimentos, emoções e, ainda que inconscientemente, podemos trocar até mesmo o sentido e significado de algumas palavras a nós ditas, com o intuito de criar ou sustentar um pretendido romance.
Quando ao ler o capítulo 17 do livro do profeta Jeremias, encontramos logo no versículo 5 uma sentença de maldição proferida por Deus, “maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor”. Em contrapartida, observamos que seremos bem aventurados quando confiamos no Altíssimo, sendo Ele o alvo e a fonte desta certeza e sentimento (Jr 17.7). Assim também deve ser no tocante à vida amorosa de cada um de nós. Devemos confiar no Senhor sabendo que, sendo da vontade dEle, já existe alguém preparado para lhe servir de cônjuge.
2º) Entenda o que motiva sua procura por um (a) parceiro (a): Muitos relacionamentos têm um início inesperado e um fim trágico. Ainda que isto soe poético, esta triste realidade acaba por ferir de forma demasiada o coração de muitos jovens que sinceramente acreditavam ter encontrado o “par perfeito”. Um coração previamente ferido sempre procurará algo que lhe sare às dores, e este remédio não pode ser nada além de Deus.
A carência, ansiedade e o desejo de sentir-se completo normalmente são o que motivam o início de um relacionamento, mas de forma alguma devem sê-lo. Sendo o fim do homem glorificar a Deus e gozá-lo para sempre, conforme nos diz o Breve Catecismo de Westminster, precisamos entender que a felicidade plena, a alegria completa e o sentimento de cumprir com um propósito só serão alcançados quando nossos corações forem cheios do Senhor. Você já parou para refletir se realmente está projetando em Deus a sua felicidade ou na expectativa de encontrar alguém para ser feliz? Se Cristo não for a Rocha, o Alicerce, sob qual construímos o que somos e o que viremos a ser, tudo desmoronará.
Um relacionamento sadio será vivenciado quando o casal entender que, em primeiro lugar, deve fazê-lo de maneira que glorifica ao Senhor, obedecendo aos princípios e limites impostos pela Palavra de Deus. Ainda, quando dois jovens cristãos começam um namoro, isso não quer dizer que eles já estão casados, mas sim que, ao menos, almejam isso. Um namoro cristão precisa ter propósito e isso não é uma busca pela intimidade física antes do casamento, mas um compromisso. O que você almeja no momento é um relacionamento para a glória do Senhor ou deseja alguém que atenda às suas necessidades, principalmente as físicas e emocionais?
3º) Evite toda forma de “jugo desigual”: Soa estranho, mas precisamos entender que algumas diferenças são muito difíceis de se conciliar.
A Confissão de fé de Westminster diz que:
”A todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é lícito casar; mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se desigualmente pelo jugo do casamento aos que são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantém heresias perniciosas.”
Heb. 13:4; I Tim. 4:3; Gen.24:57-58; I Cor. 7:39; II Cor. 6:14. (CFW: capítulo 24, 3º parágrafo)
Em primeiro lugar, é necessário ter em mente que um relacionamento entre um cristão (aquele que está no Reino da Luz) e um ímpio (aquele que está no Reino das Trevas) é biblicamente proibido. Já disse Paulo aos de Corinto:
“Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14-15)
Ore para que Deus te guie a encontrar alguém com propósitos parecidos com os teus. Luz e trevas são partes dicotômicas (elementos opostos), consegue se imaginar indo à igreja e teu cônjuge saindo para beber? Consegue te imaginar casando com alguém que te trata mal e com grosseria, enquanto você o (a) trata bem? Consegue te imaginar junto com alguém, todos os dias, até que a morte os separe, que não tem comprometimento espiritual? Consegue se imaginar casando com alguém que não gosta de orar ou de ler a Palavra de Deus? Como navegará um casal onde um rema para o norte e outro para o sul? Estagnarão e não irão a lugar algum.
Os termos “cristão” ou “evangélico” tornaram-se algo extremamente amplo, é necessário também conhecer a fundo o que a outra pessoa crê, pensa e afirma sobre a Fé que professa. Aqui não é mandamento do Senhor, mas sim “conselho de amigo”. Suponhamos que em um casal de jovens cristãos exista esta diferença. Ela pertence a denominação A e ele a denominação B, e suas respectivas denominações têm posicionamentos bíblicos bem diferentes, caso não tenham uma maturidade bíblica, esse casal poderá divergir no futuro. Ainda que convivam em aparente harmonia, respeitando os pontos de vistas distintos, surge uma dúvida: após o casamento, quando nascerem filhos, chegaram a um acordo bíblico para ensinarem seus filhos?
4º Tenha muito cuidado com a ansiedade:
‘’Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor, pois Ele me tirará os pés do laço. Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias. ’’ (Salmo 25:17)
Não são poucos os que têm convivido com a dor, com a angústia e com o sofrimento por conta de experiências desastrosas que sofreram ou por conta de anseios sobre o futuro. Deus não é indiferente ao que passamos, e certos que Ele nos ouve, lhe dirigimos nossos pedidos de socorro; foi isso o que o salmista Davi fez, ele orou ao Pai por auxílio divino em meio a um estado de tormento, que lhe revelava contínuas aflições na alma.
Cada passo da nossa vida deve ser bem pensando, inclusive na área emocional. Infelizmente, hoje, em meio à igreja, temos divórcios, abandonos de lares, indiferença e muitos casamentos deteriorados porque muitos casais, antes do matrimônio, tomaram decisões impensadas ou precipitadas. Não podemos agir em função de obter algo em caráter imediato, sem avaliar consequências futuras; a ansiedade faz isso conosco, tomados por uma aflição psíquica, conduzidos pela impaciência e pela agonia, esquecemos que Deus tem o controle de todas as coisas, e queremos agir segundo nosso próprio ritmo, entregues à falta de confiança nAquele que tem o controle de tudo em Suas mãos. Devemos lançar toda ansiedade sobre Ele, porque Ele tem cuidado de nós (1 Pedro 1:7).
‘’Não andeis ansiosos por coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. ’’ (Filipenses 4:6-7)
Que em oração sejam conhecidas diante de Deus tudo aquilo que aflige as nossas almas. Podemos planejar, ter sonhos, ter objetivos para o amanhã, mas nunca se esqueça que o futuro a Ele, e tão somente a Ele pertence. Confie no Deus que não permitiu que faltasse algo para Seu povo em meio à seca (Êxodo 16 e 17), deixará Ele que a nossa vida emocional esteja devastada ou em estado de aridez contínua? É certo que não.
5º) Não flerte com o pecado, faça um retorno à pureza: A santificação nos convida diariamente a nos abstermos e nos limparmos de toda mácula. Cristo nos santifica e nos justifica, mesmo que não sejamos merecedores. Se pararmos para observar algumas extensões do pecado, veremos que ele culmina em uma série de danos. Se refletirmos sobre a Depravação Total, perceberemos o óbvio – que a nossa natureza se inclina para o pecado. Não somos atados para fazer o bem, mas quando o fazemos é por causa do Espírito Santo que manifesta em nós Seus frutos (Gálatas 5:16-25). No capítulo 7 de Romanos, vemos a explicação de como a nossa carne e o nosso espírito militam; se nos inclinamos para o erro e diagnosticamos o quão miserável ficamos em contato com o pecado, perceberemos que a raiz de todos os males também habita dentro dos nossos corações, mas, que possamos seguir o curso contrário desse mundo, migrando para perto de Deus onde podemos encontrar forças para querer o bem e também para efetuá-lo. Precisamos evitar circunstâncias que nos levem às tentações. Tenha cuidado com o que ouve, com o que lê e com o que vê. Se você sabe o que pode estimulá-lo a cometer um erro fuja dos prazeres e do que pode te derrubar.
O estar solteiro carece de santificação, e essa é uma luta que todo aquele que internalizou que Cristo o salvou deve ter. Sujar-se é muito fácil, difícil é manter-se limpo diante do Senhor, em um mundo como esse em que vivemos. Lembremo-nos da admoestação de Paulo na carta a Timóteo:
‘’Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.’’ (2 Timóteo 2:22)
Mapeamos um percurso emocional e identificamos algumas falhas que podem surgir durante uma trajetória cristã, querendo demonstrar algumas rotas a fim de que evitar danos durante o caminho. Temos um convite diário a submetermos cada área da nossa vida a Cristo, que o nome dEle possa ser glorificado enquanto solteiros também. Dediquem-se a Deus, busque-O e que tudo possa ser acrescentado (Mateus 6:33) de acordo com a vontade dEle.
Referências:
HARRIS, Joshua. Eu Disse Adeus ao Namoro.
Confissão de Fé de Westminster (1643-46)
Lariane Santos e Daniel Kinchescki
Lariane Santos e Daniel Kinchescki