Por Lariane Santos
Um cântico é uma melodia, um poema, de cunho religioso em homenagem a uma divindade. Em Êxodo, vemos o registro do primeiro cântico entoado na bíblia, tendo Moisés como compositor.
Os hebreus estavam sendo afligidos no Egito, tratados à dura servidão, e o Senhor ouvindo o clamor do Seu povo, prometeu tirar-lhes daquela terra, e assim Ele fez. Êxodo significa passagem ou saída, e na narrativa descrita neste livro, vemos o processo de migração do povo, processo esse que envolve pragas, o endurecimento do coração de Faraó pelo próprio Deus, uma perseguição – Faraó e seus cavaleiros seguiram no encalço dos hebreus – até que o Senhor fez o povo atravessar o mar a pés enxutos, e em seguida derruba Faraó e o seu exército.
‘’Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. ’’ (Romanos 9:17)
Moisés foi testemunha ocular e condutor desse acontecimento, e nesse primeiro cântico, o que ocorrera no Mar Vermelho inspira-lhe a entoar o primeiro cântico bíblico:
‘’ Então, entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram: Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto eu o louvarei; ele é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei. O Senhor é homem de guerra; Senhor é o seu nome. Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus capitães afogaram-se no mar Vermelho. Os vagalhões os cobriram; desceram às profundezas como pedra. A tua destra, ó Senhor, é gloriosa em poder; a tua destra, ó Senhor despedaça o inimigo. Na grandeza da tua excelência, derribas os que se levantam contra ti; envias o teu furor, que os consome como restolho. Com o resfolgar das tuas narinas, amontoaram-se as águas, as correntes pararam em montão; os vagalhões coalharam-se no coração do mar. O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; a minha alma se fartará deles, arrancarei a minha espada, e a minha mão os destruirá. Sopraste com o teu vento, e o mar os cobriu; afundaram-se como chumbo em águas impetuosas. Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade. Terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas? Entendeste a destra; e a terra os tragou. Com a tua benevolência guiaste o povo que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade. Os povos o ouviram, eles estremeceram; agonias apoderaram-se dos habitantes da Filístia. Ora, os príncipes de Edom se perturbam, dos poderosos de Moabe se apodera temor, esmorecem todos os habitantes de Canaã. Sobre eles cai espanto e pavor; pela grandeza do teu braço, emudecem como pedra; até que passe o teu povo, ó Senhor, até que passe o teu povo, ó Senhor, até que passe o povo que adquiriste. Tu o introduzirás e o plantarás no monte da tua herança, no lugar que aparelhaste, ó Senhor, para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram. O Senhor reinará para todo o sempre. Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavalarianos, entraram no mar; mas os filhos de Israel passaram a pé enxuto pelo meio do mar.’’ (Êxodo 15:1-19)
Já em Deuteronômio, após entregar as leis e legislar para o povo, testemunhar maravilhas de Deus, aprender e repassar o que havia recebido ao povo do Senhor, após tantas pelejas, após tantos conflitos, após perder seus irmãos, após passar 40 anos no deserto, o Senhor disse a Moisés que os dias dele eram chegados, informando que logo em breve ele morreria, e lhe faz mais algumas recomendações. Moisés então pronuncia integralmente as palavras de um novo cântico aos ouvidos de toda a congregação de Israel:
‘’ Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva. Porque apregoarei o nome do Senhor; engrandecei a nosso Deus. Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é. Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é. Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de muitas gerações: pergunta a teu pai, e ele te informará; aos teus anciãos, e eles te dirão. Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário cheio de uivos; cercou-o, instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu olho.’’ (Deuteronômio 32:1-10)
O cântico segue por 43 versículos que estão presentes em Deuteronômio 32:1-43. Nessa segunda melodia, Moisés proclama, exalta a Deus e admoesta mais uma vez o povo por sua infidelidade, ressaltando o cuidado que o Senhor havia tido com eles, sendo que havia naquele povo imensa ingratidão.
E o terceiro cântico que tem Moisés como autor é o salmo 90, que na verdade é uma oração, onde ele aborda a eternidade de Deus e a transitoriedade do homem:
‘’Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus. Tu reduzes o homem à destruição; e dizes: Tornai-vos, filhos dos homens […] Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios […] E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos. ’’ (Salmos 90: 2,3, 12 e 17)
Lembramos de Moisés enquanto legislador, enquanto amigo de Deus, e devemos lembrar também do Moisés enquanto escritor, pois, além de escrever a Torá, seus cânticos são expressões de um outro gênero textual, e essa versatilidade tem a finalidade principal de enaltecer o próprio Senhor. As melodias supracitadas nos lembram que ao nos reportarmos ao Pai por meio da música, Ele deve ser engrandecido, Seus feitos devem ser mencionados, as reflexões ou lições embutidas devem apontar para o Criador. E nós somos apenas alvos de Sua graça, criaturas que necessitam ser subservientes ao Deus Poderoso!
”A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.” Colossenses 3:16