Suicídio, e o que a Bíblia Diz?




Suicídio é um ato desesperado da pessoa que toma tal decisão e, também, um evento traumático para a família e os amigos da pessoa que comete tal ato. O que a Bíblia tem a dizer sobre o suicídio e o futuro daqueles que o cometem?

Existem pastores que tem afirmado publicamente a ideia de que o suicídio pudesse ser um pecado imperdoável. Porém, não existe base além da especulação para tal afirmação. Se faz necessário uma reflexão séria e calma sobre a questão tratada neste texto, pela gravidade do assunto e pela dor das pessoas que enfrentam tal tragédia em suas vida.

O desejo de suicídio é muito mais comum do que a Igreja hoje tem percebido, inclusive entre os fiéis. A maioria de pessoas que tem pensamentos sobre o suicídio não desejam morrer; ainda que isto possa parecer uma contradição, reflete o estado mental e emocional das pessoas que consideram acabar com a própria vida.

As pessoas que consideram o suicídio desejam simplesmente encontrar alívio para uma dor física, mental, emocional ou espiritual que sentem. Inclusive, o próprio apóstolo Paulo parece ter enfrentado desafios semelhantes ao escrever “fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Coríntios 1:8).

Encontramos outros exemplos semelhantes a serem considerados nas Escrituras (veja também Números 11:14–15; 1 Reis 19:4; Jeremias 20:14; Filipenses 1:21–24). Nessas situações precisamos ter a certeza e a segurança de onde está nossa esperança, porém, nem sempre é tão fácil, como escrever estas palavras.

Não há dúvida alguma que o ato de uma pessoa acabar com a própria vida é um pecado contra Deus. “Não matarás” sempre foi entendido que incluía a própria vida.

Uma explicação sobre esta questão se encontra o Catecismo Maior de Westminster, “136. Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?” E responde assim:

“ Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.“

Tirar a vida de uma pessoa é pecado, porque cada pessoa tem a imagem de Deus nele. O próprio catecismo inclui alguns casos que os teólogos de Westminster acreditaram que seriam excepções a serem consideradas no contexto imediato.

Esta opinião também foi expressada de forma rotunda por Agostinho no livro Cidade de Deus. Ele considerou que o suicídio era um pecado terrível contra si mesmo. E tinha que ser evitado de todo jeito.

Uma vez dito isso, não deveríamos ser apressurados a trazer condenação a uma pessoa que cometeu suicídio. Já que existem muitos motivos, e diversos, que podem levar uma pessoa a cometer suicídio. Alguns deles são problemas psiquiátricos de muita gravidade e outros podem ser depressões profundas. Sem falar do efeito do álcool e das drogas que podem causar danos nocivos ao serem ingeridos.

Uma das questões mais trágicas da pessoa que acaba cometendo suicídio é que, em muitas ocasiões, ela tem estado por um longo período tentando resolver por si mesma problemas em segredo, a tal ponto que as pessoas ao redor dela nunca perceberam as lutas internas que essa pessoa enfrentava.

Evidentemente, isto não pode ser suficientemente a base pela qual afirmamos o que Deus vai fazer sobre o destino desta pessoa. Será que Deus condenaria alguém para toda a eternidade que seu último ato em vida foi um pecado?

Não vou supor aqui o destino final de alguém. Isto é prerrogativa somente de Deus em Cristo (João 5:22). Não cabe a nos sermos juízes. Certamente, devemos ensinar claramente que suicídio é um pecado contra Deus e contra nós mesmos, porém, cabe somente a Deus fazer o juízo final.

A questão permanece assim se Deus terá misericórdia com um crente que aniquila sua própria vida. Muitas são as perguntas que vão permanecer sem responder. Porém, a bíblia nos ensina que a salvação é pela graça mediante a fé em Cristo (Efésios 2.8). Ao mesmo tempo, Paulo escreveu que nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Romanos 8.38-39). Por outro lado, o salmista escreveu sobre o caráter de Deus (Salmo 103:11). A Bíblia inclusive mostra o valor da misericórdia sobre o julgamento (Tiago 2:13).

A graça de Deus é maravilhosa, e existe muitas razões para ter esperança sobre o futuro daquele que morrer através das suas próprias ações.


Autor: Bispo Josep M. Rossello