Soberania Divina: Deus é soberano ou eu sou livre?




A soberania absoluta de Deus é baseada na verdade bíblica de que Deus é Rei sobre tudo. Ao contrário dos reis humanos, não há limites para a soberania de Deus, o universo todo é totalmente dependente dele. A teologia reformada enfatiza a soberania de Deus de pelo menos três maneiras: pela criação, pela providência e pela graça. 

Em primeiro lugar, Deus é o Criador soberano de todas as coisas. Como grande Rei, Ele simplesmente ordenou que o universo viesse a existir do nada (Gn 1:1-3), de modo que, a sua existência depende inteiramente do poder criador divino. Deus também demonstrou a sua soberania na criação ao formar e ordenar o universo como lhe aprouve até ficar satisfeito com a sua obra (Gn 1:4,10,12,18,21,25,31). 

Em segundo lugar, Deus continua a governar todas as coisas e faz com elas o que lhe apraz por meio do seu controle soberano sobre a História. A imagem de Deus assentado em seu trono é uma constante ao longo das Escrituras (1Rs 22:19; Is 6:1; Ez 1:26; Dn 7:9; Ap 4:2; Sl 11:4; 45:6; 47:8,9; Hb 12:2; Ap 3:21) que nos lembram com frequência e em termos explícitos que o Senhor (Yahweh) governa como Rei, exercendo o seu domínio tanto sobre as grandes coisas quanto sobre as pequenas (Êx 15:18; Sl 47; 93; 96:10; 97; 99:1-5; 146:10; Pv 16:33; 21:1; Is 24:23; 52:7; Dn 4:34,35; 5:21-28; 6:26; Mt 10:29-31). O domínio de Deus sobre a História é total; Ele realiza todos os seus decretos, e ninguém pode impedir a sua operação ou frustrar o seu plano eterno. 

Em terceiro lugar, Deus também é soberano na salvação. Várias tradições cristãs afirmam a soberania geral de Deus sobre a natureza, mas afirmam que, de algum modo, a salvação não é de todo uma prerrogativa divina da qual dependemos completamente. No entanto, as Escrituras ensinam que Deus concede a salvação gratuitamente àqueles que Ele ama, segundo o seu próprio arbítrio (Êx 33:19; Rm 9:15). Assim, todos os seres humanos sem exceção são totalmente dependentes de Deus para a salvação. A salvação é, do começo ao fim, uma dádiva da graça de Deus (Dt 7:7; Ef 2:8,9). 

Não podemos dar o primeiro passo em direção a Cristo se não recebermos a capacidade de fazê-lo (Jo 6:44,65) e não podemos permanecer na fé pelos nossos próprios esforços (Gl 3:3-6). Também não temos poder de ressuscitar e receber a salvação no dia do julgamento; é o poder de Deus que nos ressuscita em Cristo. (Ef 2:4-7). Por certo, a graça de Deus em nossa vida conduz à santidade e à obediência. Mas não contribuímos de maneira nenhuma para a nossa salvação (Fp 2:12,13). Essa é a maravilha da graça soberana. 

O fato de Deus ser soberano em todos esses sentidos não nega a realidade da dignidade e da escolha humana. As Escrituras deixam claro que somos seres humanos morais, que prestamos contas a Deus pelo que fazemos ou deixamos de fazer (Dt 7:9,10). Somos agentes livres cujas escolhas têm efeitos expressivos sobre a História. 

É evidente que a crença na soberania absoluta de Deus e na responsabilidade dos seres humanos como agentes livres extrapola os limites da nossa compreensão. Costumamos associar a responsabilidade moral à capacidade de agir de maneira independente, mas do ponto de vista bíblico, ao mesmo tempo em que estamos sob o controlo de Deus também somos moralmente responsáveis. 

É um mistério maravilhoso nosso Deus soberano não nos ter criado como autômatos, mas sim como criaturas morais. Ao mesmo tempo, porém, muitas vezes o cristão tem dificuldade em aceitar esse conceito. Paulo anteviu uma objeção à doutrina da graça soberana de Deus que continua popular até hoje: “Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?” (Rm 9:19). 

Não obstante, é essencial lembrar que, justamente por ser soberano absoluto, Deus pode determinar a nossa responsabilidade. É pelo fato de estar no controle que Ele pode ser o nosso Juiz. 

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra